Novembro chegou ao fim, e os trabalhadores brasileiros já estão com a primeira parcela do 13º salário nas mãos. Para quem ainda não pensou sobre o que fará com o dinheiro, o G1 consultou economistas que recomendaram uma análise cuidadosa da situação financeira individual ou familiar antes de decidir o que fazer. E a primeira recomendação é: se você tiver dívidas, comece a gastar seu dinheiro extra com elas.
De acordo com o consultor financeiro Gustavo Cerbasi, se a lista de débitos for grande, é melhor começar pelos "mais caras", ou seja, os que cobram mais juros. Primeiro entra o rotativo no cartão de crédito, depois o cheque especial, dívidas com financeiras, com bancos e assim por diante.
Professor da Trevisan Escola de Negócios, Alcides Leite concorda: "O importante é fugir de dívida, porque o juro continua alto e é sempre um problema."
O professor Faculdade de Informática e Administração Paulista (Fiap), Marcos Crivelaro, diz que a proporção de pessoas com dívida é alta em 2008, ano em que o consumo esteve aquecido.
"Talvez para o ano que vem a situação seja outra. Agora, as pessoas estão querendo quitar pagamentos, com medo do desemprego. Está bem clara essa situação hoje", diz o Crivelaro.
Os especialistas foram unânimes em dizer que o brasileiro está com medo da crise neste fim de ano. Um dado divulgado nesta semana pela Federação do Comércio do Estado de São Paulo (Fecomercio) confirma a tendência.
De acordo com o levantamento da Fecomercio, que ouviu 1.100 pessoas em São Paulo, 90% dos entrevistados acreditam que o Brasil será afetado de alguma forma pela crise internacional. E o maior medo do consumidor paulistano é perder o emprego. Impostos e matrículas
Depois de fazer um levantamento das dívidas, de acordo com os dois especialistas, é a hora pensar nos gastos que estão por vir: os impostos (IPTU e IPVA) e as matrículas escolares geralmente são pagas em janeiro.
Para Cerbasi, quase sempre vale a pena pagar à vista. "Os descontos são interessantes e tiram um peso do orçamento para o resto do ano", ressalta o consultor.
Segundo Alcides Leite, é preciso colocar tudo no papel: as dívidas passadas, as despesas futuras e a previsão de entrada com o 13º salário. Depois de eliminar as obrigações, sobram duas opções: compras ou poupança.
"(Deve-se) preferir sempre as compras à vista. Se possível, é bom esperar para comprar depois, no início do ano que vem, quando existem várias liquidações", lembra o professor.
Na hora de ir às compras, vale a pena fazer uma lista do que será comprado antes de ir à loja. "Na loja, você acaba agindo por impulso e ficando tentado várias ofertas e acaba fazendo uma escolha não racional. Pesquisar preços na internet antes de sair de casa é recomendável", ressalta Leite.
Investir ou não, eis a questão
Caso a pessoa fique em uma "dúvida cruel" sobre guardar o que restou ou ir às lojas, Cerbasi recomenda fazer uma análise do ano de 2008.
Se a pessoa consumiu pouco, pode se dar ao luxo de comprar alguma coisa. Se não guardou muito dinheiro ao longo do ano, pode engordar a poupança.
"Uma ceia de Natal não é o destino ideal (do 13º). O importante é que a pessoa planeje para poder consumir de regularmente, durante o ano todo", aconselha.
Para quem decidir investir, o professor da escola de negócios Ibmec-SP, Liao Yu Chieh, diz que geralmente não vale a pena usar o 13º salário para abater uma dívida de juro baixo, como crédito imobiliário, por exemplo. Com esse valor, vale a pena fazer uma reserva para emergências colocando o dinheiro em aplicação de resgate simplificado, como a poupança ou investir em opções seguras, para fugir da volatilidade das bolsas.
Para valores relativamente baixos, Chieh diz que o Tesouro Direto pode ser uma boa opção, pois as taxas de corretagem cobradas pelo governo federal são mais baixas que os valores cobrados pelos bancos. "Com esse volume, se for para um fundo de investimento, (o cliente) vai pagar altas taxas de administração. (E o Tesouro Direto) tem um risco governo, baixo, sem taxa de administração", explica.