A internet será invisível e onipresente em no máximo dez anos, com sistemas nanotecnológicos espalhados por todas as partes, apesar de a expansão aumentar os riscos de seu “lado obscuro”, alertou nesta segunda-feira (22) o engenheiro americano Leonard Kleinrock, um dos criadores da rede mundial de computadores.
Responsável pela primeira conexão de dados da internet, Kleinrock disse em Madri que a rede estará em todos os lugares em breve, porque a informática evolui muito rápido e desenvolve equipamentos cada vez mais inteligentes e sensores cada vez mais baratos.
O professor da Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA) receberá nesta terça (23) o Prêmio Fundação BBVA Fronteiras do Conhecimento, com o qual foi agraciado na categoria Tecnologias da Informação e Comunicação.
Sua ideia de fragmentar as mensagens e usar todos os canais disponíveis para enviar os pacotes de dados resultantes foi um sucesso para ordenar o tráfico de informação na internet.
Internet das coisas
Kleinrock, responsável do desenvolvimento da chamada teoria das filas aplicada à comutação de pacotes de dados, afirmou que em breve haverá sensores instalados em paredes, unhas, carros e ruas.
Esses equipamentos serão acompanhados de “ativadores, microfones, alto-falantes, telas, processamento lógico e memória”, capaz de enviar alertas de acordo com padrões e gostos dos usuários.
Por enquanto, Kleinrock acredita que o principal obstáculo para esse cenário inovador são as baterias, que se esgotam muito rápido.
Além disso, para o engenheiro seriam necessários mais avanços nas interconexões do usuário, descartando o uso de teclados e uma série de aplicativos. Os sistemas deveriam ser “mais inteligentes” e manuseados a partir de gestos, movimentos e tato.
Essa nova relação com a internet ainda é “incipiente”, na avaliação do criador, apesar de o caminho estar sendo aberto. Em breve, Kleinrock acha que esse avanço transformará as interações em virtuais em algo como a eletricidade, com o qual as pessoas convivem sem se dar conta.“A internet será como um sistema nervoso mundial onipresente com todos conectados”, resumiu.
Lado negro
Apesar de destacar a evolução, o engenheiro vê com preocupação o “lado escuro da internet” e os riscos de uma rede “que não obedece nem é sempre confiável”. Além disso, mais criminosos passarão a usar a ferramentas para praticar crimes a partir de seu crescimento, indicou.
“Como será esse processo de maturidade da internet: se converterá em um adulto responsável ou em um delinquente?”, questionou o especialista, destacando que quando a rede foi concebida não se previa que seria usada para “fazer o mau”.
Depois surgiram problemas. Vírus, “spam” e, posteriormente, coisas muito piores, como a pornografia, redes de crime organizado e ciberterrorismo.
Kleinrock indicou que a internet poderia ter sido projetada com maior segurança desde o início, mas já é tarde para implementar sistemas de autenticação de usuários, contra roubo de identidade e arquivos.
“Nunca imaginamos que poderia se transformar em um entorno tão perigoso. Agora estamos entre a cruz e a espada para garantir a segurança global sem fracionar a rede”, indicou.
Soluções como a encriptação homomórfica das comunicações, que consiste em encriptar os dados transmitidos e os programas que os processam para que as mensagens não sejam identificadas em caso de sabotagem.
Outra opção de segurança, mas que não agrada Kleinrock, seria o estabelecimento de redes individuais dependentes de distintas entidades. Porém, há o risco de segregar a internet como rede global, um dos fatos responsáveis pelo seu sucesso.