| Foto: Brunno Covello / Gazeta do Povo

O ex-chanceler Luiz Felipe Lampreia, ministro do governo Fernando Henrique Cardoso entre 1995 e 2001, não vê um horizonte promissor para o comércio exterior brasileiro com a reeleição da presidente Dilma Rousseff. "Nada aponta nessa direção", disse à Gazeta do Povo na última quarta-feira, após um seminário com empresários e estudantes promovido pela Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep). Apesar do ambiente político desfavorável, Lampreia afirmou à plateia que existem oportunidades para pequenas e médias empresas que buscam o mercado externo com capacitação.

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Embora esteja entre as sete maiores economias do mundo, o Brasil praticamente emperrou na lista dos exportadores, ocupando atualmente a 22.ª posição. Como reparar isso?

Isso passa pela superação do custo Brasil, enfrentando a situação caótica não apenas das estradas, portos e aeroportos, mas também focando na simplificação tributária. Além disso, o setor privado necessita se capacitar mais para navegar nesse grande oceano que é o comércio internacional. Agora, não adianta nos iludirmos que o segundo mandato da presidente Dilma será o despertar de uma nova era. Nada aponta nessa direção.

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Como o Brasil pode aproveitar no Mercosul o exemplo da Aliança do Pacífico, bloco de comércio formado por México, Chile, Equador e Peru, que pretende diminuir em 92% as tarifas entre si?

Devemos começar a conversar com os países que estão obtendo bons resultados nos acordos bilaterais e plurilaterais, de maneira a mostrar que não existe uma rivalidade. Quando o Mercosul foi criado, o acordo estabelecido era completamente favorável ao Brasil, que tinha uma fatia de 80% do mercado – agora que não estou no governo posso dizer isso sem repercurtir mal. O caminho equivocado é aumentar a aposta em ações sobretudo ideológicas, como o financiamento ao Porto de Mariel, em Cuba, que não tem relevância estratégica nenhuma para o Brasil.

A negociação em bloco do Mercosul – todos os países membros precisam concordar – continua sendo um empecilho ao avanço da região?

Creio que o Brasil deve dar prioridade às negociações bilaterais. A negociação em bloco não tem mais valor, até por que não é um mecanismo institucional do Mercosul. E o Brasil já perdeu muitas oportunidades, sobretudo por causa da resistência da Argentina. O Mercosul é um acordo que pode ser superado por outros que se mostrem mais vantajosos.

O país está registrando consecutivos déficit na balança comercial – importando mais do que exportando. Como solucionar isso?

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Devemos ter mais capacidade de enfrentamento, de criar formas de atingir o mercado externo com nossas exportações. Neste momento, o peso do comércio exterior brasileiro tem diminuído por causa da queda do preço das commodities. Em médio e longo prazos, porém, o país tem de se capacitar para ampliar sua pauta exportadora, hoje fortemente dependente das matérias-primas.

O senhor concorda que o Brasil restabeleceu uma relação colonial com a China e Europa, uma vez que exporta apenas principalmente matérias-primas, sem introduzir bens e serviços nas cadeias de maior valor agregado?

Essa relação já foi muito pior. Cito dois exemplos: antes que a Argentina se fechasse e que a exportação de manufaturados brasileiros para os Estados Unidos caísse. Do ponto de vista das commodities, o que ocorreu foi uma valorização duradoura, que acabou atraindo mais investimentos para o setor e aumentando a oferta. Mas agora o cenário está se invertendo. Nosso desafio é enfrentar a atual queda de preços, com produtos e serviços que compensem essa perda.

Como avalia a interlocução atual entre o Brasil e os EUA, abalada após a revelação do caso de espionagem da NSA, a agência de inteligência norte-americana?

No caso da espionagem, o Brasil agiu bem, assim como a maioria dos outros países que rechaçaram a conduta. Até o cancelamento da visita oficial de Estado já virou água passada. Na questão do diálogo bilateral atual, o que se vê é que ele não é agressivo, mas falta empenho. Penso fundamentalmente que os Estados Unidos não estão interessados no Brasil e faltam perspectivas de relações recíprocas.

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Estados Unidos, Canadá, Austrália e Nova Zelândia questionam, por meio da Organização Mundial do Comércio (OMC), a equalização do diesel no Brasil e os subsídios à pesca e ao setor automotivo. O país tem estatura para vencer esses litígios?

O Brasil tem sido, como todos os países relevantes, objeto de ataques em várias frentes. Mas o país tem dado importância a isso e tem se saído, inclusive, mais vencedor que perdedor. Além disso, esse sistema de solução de controvérsias representa um avanço em relação ao passado, quando ele não existia

O senhor considera a diplomacia do governo Dilma Rousseff muito sustentada na figura de Marco Aurélio Garcia (assessor especial da presidência para assuntos internacionais), conhecido pelo alinhamento com os países de esquerda?

Sem dúvida. Hoje, por exemplo, a chance de o Brasil ser eleito como membro do conselho permanente de segurança da ONU é zero. Isso se demonstrou também quando a presidente foi à tribuna da ONU dizer que tem de haver diálogo com os terroristas do Estado Islâmico. Com isso, o papel de protagonismo mundial há tantos anos perseguido pela diplomacia brasileira naufragou.

Um grupo de diplomatas do escalão de base redigiu um documento reclamando do tratamento dado à carreira pelo governo. Qual é a sua avaliação?

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A carreira no Itamaraty está sendo destruída. Faltam verbas, faltam condições e falta o principal: política externa com movimento. O Brasil evidentemente está perdendo espaço no cenário internacional.

E o que senhor achou do resultado da eleição?

Como ex-ministro do governo Fernando Henrique Cardoso, não poderia gostar.