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Nota técnica emitida pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) alerta para a necessidade de aumento na oferta de energia para assegurar o abastecimento no país a partir de setembro. A geração adicional é classificada como "imprescindível" pelo ONS e precisaria ser de no mínimo 5,5 gigawatts médios (GWmed) até novembro para afastar o risco de apagão em meio à crise hídrica.
Na nota divulgada nesta quarta-feira (25), o ONS atualiza informações sobre as condições de atendimento do Sistema Interligado Nacional (SIN) após ser observada uma afluência (ou chegada de água aos reservatórios) menor do que a prevista anteriormente, principalmente na região Sul. Segundo o Operador Nacional, como as chuvas não se confirmaram, o volume de água observado em 2021 foi inferior àquele verificado em 2020 (e que fora utilizado como parâmetro para os cálculos iniciais sobre o abastecimento).
Isso significa ainda menos água do que o esperado nos reservatórios e traz à tona a necessidade de mais medidas para o atendimento da demanda. Sem um incremento na oferta de energia, o ONS aponta que o país deve chegar ao final do período seco (em outubro) com "recursos insuficientes para atendimento ao mercado de energia", mesmo com o despacho térmico pleno e a adoção do critério menos rígidos para a transferência de energia do Norte/Nordeste para o Sudeste/Centro-Oeste.
Na prática, o país precisaria crescer sua oferta de energia em 8,1% para alcançar o adicional indicado com base nos dados da geração média em 2021, que foi de 67,5 GW até agosto (composta pela soma do total produzido independente da fonte: hidrelétrica, térmica, eólica e solar).
Redução de consumo é uma das saídas para reduzir risco de apagão
Esse incremento pode vir de geração extra e de novas medida de governança, mas também da redução do consumo, a partir de medidas de economia para frear a demanda.
De olho em viabilizar o atendimento e evitar um apagão, o ONS fez uma série de recomendações, que vão desde o adiamento de manutenções programadas em usinas e a importação de mais energia vinda da Argentina e do Uruguai, até a resolução de questões judiciais que atualmente impedem a disponibilidade de combustíveis para térmicas com pendências junto às autoridades.
Além de ações na ponta da oferta, o operador indica, ainda, a necessidade de avanços para colocar em funcionamento o programa de Resposta Voluntária da Demanda (RVD), voltado a grandes consumidores, e ações de incentivo para que a população reduza de forma voluntária o seu consumo.
As medidas de racionamento voluntário vem sendo destacadas pelo governo federal e entregarão contrapartidas financeiras aos consumidores que reduzirem a utilização de energia. A ideia é premiar aqueles que ajudarem a equilibrar a equação, afastando o risco de desabastecimento, conforme o Ministério de Minas e Energia.
Oferta adicional mantém conta de luz mais cara
A "relevante piora" no horizonte do setor elétrico brasileiro foi observada recentemente, mas a atual crise hídrica promete se estender para além de 2021, não apenas com risco de consequências no abastecimento propriamente dito, mas também no preço.
Com o amplo acionamento da térmicas — usadas para evitar o esvaziamento completo dos reservatórios das hidrelétricas —, a conta de energia deve permanecer na bandeira vermelha patamar 2 pelos próximos meses e há ainda previsão de que o adicional possa subir. Quem decide o novo patamar é a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).
Em audiência no Senado nesta quinta-feira (26), o ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou que a bandeira tarifária no Brasil deve voltar a subir. “Temos que enfrentar a crise. Vamos ter que subir a bandeira. Vou pedir para os governadores para não subir automaticamente [o ICMS, cobrado na conta de luz]. Eles acabam faturando em cima da crise”, afirmou. Mais tarde, em evento da XP Investimentos, o ministro sugeriu "moderação" no aumento de preço das bandeiras. "É melhor subir bandeira pouco por mais tempo, do que muito por três meses", disse.
No dia anterior, Guedes havia minimizado a crise hídrica. "Qual é o problema que a energia vai ficar um pouco mais cara porque choveu menos”, questionou. Nesta quinta, o ministro disse que sua declaração foi tirada do contexto e atribuiu o fato a uma antecipação da campanha política. "Era um chamamento, eu disse em tom de exortação. Mas sempre falsificam narrativas e tentam destruir a minha reputação. Distorcem o sentido das palavras", reclamou.
"A crise hídrica é grave e foi produzida nos últimos 10, 15 anos por um sistema caótico. E é mais um desafio. O 'e daí' foi neste sentido, vamos enfrentar essa crise", afirmou Guedes.