Até pouco tempo à frente na defesa da produção de energia de fontes renováveis, como etanol, biodiesel, eólica e solar, o Brasil está a poucos passos de sujar sua matriz energética. É o que aponta um estudo sobre sustentabilidade e economia verde, feito pela Fundação Getulio Vargas (FGV) e a Febraban. Os motivos da mudança de prioridade seriam a descoberta e o início da exploração de grandes reservas de petróleo no pré-sal, o excesso de acomodação com as usinas hidrelétricas, além de aspectos tecnológicos e econômicos.
O trabalho compara os investimentos globais nas chamadas Novas Energias (NEs) agendados para 2014. Eles somam US$ 214 bilhões e a participação brasileira nesse total é de US$ 3,1 bilhões, 1,4% do total. Na comparação com outros emergentes, como a China, o Brasil fica muito atrás. O país asiático investirá US$ 56,3 bilhões (26%). A Índia também aparece na frente, com US$ 6,1 bilhões (2,8%).
Além disso, os autores destacam que, embora as fontes renováveis ainda sejam majoritárias na matriz energética do Brasil, respondendo por 79,3% da eletricidade consumida (dos quais 70,6% de origem hidráulica), esse porcentual foi bem maior em anos recentes. Em 2011, era de 88,9%.
"Num contexto mundial, em que uma prioridade estratégica visando ao desenvolvimento sustentável e ao longo prazo é priorizar o uso de energias renováveis, o Brasil caminha no sentido oposto, no que tange à composição de sua matriz", diz o estudo.
Segundo Aron Belinky, do Centro de Estudos em Sustentabilidade da FGV, o grande volume de hidrelétricas construídas no passado ajuda nessa acomodação. Ele cita perda de oportunidade em relação a etanol e biocombustíveis. "As hidrelétricas trazem uma tecnologia antiga, dos séculos 19 e 20. Por mais que esse tipo de energia não gere efeito estufa, tem impacto local muito grande. É uma tecnologia com uso limitado, que depende de grandes rios", diz Belinky.
Retrocesso
A avaliação é que o Brasil entrou no século 21 como um país privilegiado no cenário energético, mas, na última década, essa posição vem mudando. Nesse período, o Brasil contou com políticas públicas voltadas às Novas Energias, com destaque para o Proinfa, que impulsionou a implantação de 131 usinas (60 pequenas centrais hidrelétricas, 52 eólicas, 19 térmicas a biomassa), previstas para gerar 11,1 GWh em 2014. A expectativa com base no mercado atual das NEs que não inclui a solar fotovoltaica é que as eólicas mantenham um ritmo de contratação anual entre 2 GW e 2,5 GW.
Já o setor de biomassa tem dificuldade em viabilizar contratações por causa do maior custo médio de usinas de cogeração (R$ 150/MWh contra R$ 130/MWh das eólicas) e menor priorização do governo. Mas há um potencial de geração a partir do bagaço de cana proporcional à evolução da safra e da produção de etanol.