Alternativa
País corre para não perder a onda da energia marítima
O Brasil começa de forma tímida a desenvolver tecnologia nacional para gerar energia elétrica com as ondas do mar. Com 8 mil quilômetros de costa, e um potencial que pode chegar a 114 gigawatts (praticamente a atual capacidade instalada de energia elétrica no país), o Brasil teria tudo para se tornar um dos líderes globais do setor de energia marítima, que engloba também o movimento das marés.
O segmento de energia marítima deve ter seu padrão tecnológico definido até 2020 e se tornar viável economicamente em 2025. No total, já existem seis tecnologias para energia marítima. Na elite mundial do segmento estão Reino Unido o país mais avançado, com centro de pesquisas para o setor , Estados Unidos, Dinamarca, Portugal, China, Noruega, Canadá e Austrália.
Iniciativa carioca
No Brasil, o projeto mais moderno em desenvolvimento ocorre no Rio de Janeiro. A unidade, que ficará a cem metros da Ilha Rasa e a dez quilômetros da praia de Ipanema, entrará em funcionamento em setembro de 2015, custou R$ 8 milhões e é feito em parceria com Furnas e a Seahorse Wave Energy.
O protótipo tem um pistão fixado no fundo do mar e nele estarão dois flutuadores, que se movimentarão na vertical com o movimento das ondas, gerando energia, transportada por um cabo até a ilha. Estima-se que gere 50 kw, o suficiente para abastecer o farol e algumas casas na ilhota.
Investimentos
O secretário de Energia do Ministério de Minas e Energia, Altino Ventura, reconheceu que a participação do Brasil no total de investimentos mundiais é pequena. Mas enfatizou o plano decenal para o período 2013-2023. "Vamos acrescentar 77 mil megawatts aos 127 mil existentes", disse, acrescentando que a projeção de aumento da produção de etanol, até 2023, é de 5,5% ao ano; de biodiesel, 6,4%.
Até pouco tempo à frente na defesa da produção de energia de fontes renováveis, como etanol, biodiesel, eólica e solar, o Brasil está a poucos passos de sujar sua matriz energética. É o que aponta um estudo sobre sustentabilidade e economia verde, feito pela Fundação Getulio Vargas (FGV) e a Febraban. Os motivos da mudança de prioridade seriam a descoberta e o início da exploração de grandes reservas de petróleo no pré-sal, o excesso de acomodação com as usinas hidrelétricas, além de aspectos tecnológicos e econômicos.
O trabalho compara os investimentos globais nas chamadas Novas Energias (NEs) agendados para 2014. Eles somam US$ 214 bilhões e a participação brasileira nesse total é de US$ 3,1 bilhões, 1,4% do total. Na comparação com outros emergentes, como a China, o Brasil fica muito atrás. O país asiático investirá US$ 56,3 bilhões (26%). A Índia também aparece na frente, com US$ 6,1 bilhões (2,8%).
Além disso, os autores destacam que, embora as fontes renováveis ainda sejam majoritárias na matriz energética do Brasil, respondendo por 79,3% da eletricidade consumida (dos quais 70,6% de origem hidráulica), esse porcentual foi bem maior em anos recentes. Em 2011, era de 88,9%.
"Num contexto mundial, em que uma prioridade estratégica visando ao desenvolvimento sustentável e ao longo prazo é priorizar o uso de energias renováveis, o Brasil caminha no sentido oposto, no que tange à composição de sua matriz", diz o estudo.
Segundo Aron Belinky, do Centro de Estudos em Sustentabilidade da FGV, o grande volume de hidrelétricas construídas no passado ajuda nessa acomodação. Ele cita perda de oportunidade em relação a etanol e biocombustíveis. "As hidrelétricas trazem uma tecnologia antiga, dos séculos 19 e 20. Por mais que esse tipo de energia não gere efeito estufa, tem impacto local muito grande. É uma tecnologia com uso limitado, que depende de grandes rios", diz Belinky.
Retrocesso
A avaliação é que o Brasil entrou no século 21 como um país privilegiado no cenário energético, mas, na última década, essa posição vem mudando. Nesse período, o Brasil contou com políticas públicas voltadas às Novas Energias, com destaque para o Proinfa, que impulsionou a implantação de 131 usinas (60 pequenas centrais hidrelétricas, 52 eólicas, 19 térmicas a biomassa), previstas para gerar 11,1 GWh em 2014. A expectativa com base no mercado atual das NEs que não inclui a solar fotovoltaica é que as eólicas mantenham um ritmo de contratação anual entre 2 GW e 2,5 GW.
Já o setor de biomassa tem dificuldade em viabilizar contratações por causa do maior custo médio de usinas de cogeração (R$ 150/MWh contra R$ 130/MWh das eólicas) e menor priorização do governo. Mas há um potencial de geração a partir do bagaço de cana proporcional à evolução da safra e da produção de etanol.
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