A balança comercial brasileira teve em novembro o pior desempenho da história e consolidou a perspectiva de que vai fechar no vermelho em 2014, após 14 anos de superávits. Segundo os dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), a balança teve déficit de US$ 2,35 bilhões no mês passado, o maior para o mês da série histórica.
No acumulado de janeiro a novembro, o déficit somou US$ 4,22 bilhões o pior resultado para o período desde 1998. Com os dados do mês passado, o governo passou a admitir a possibilidade de déficit na balança comercial.
A piora da balança comercial faz parte de um quadro mais amplo de deterioração das contas externas, o que representa mais um problema para a equipe econômica, já às voltas com a inflação alta e baixo crescimento.
O déficit em conta corrente, que, além da balança comercial, inclui serviços, juros, dividendos e remessas, subiu de 3,62% do PIB em 2013 para 3,73% nos 12 meses até outubro de 2014. Dessa forma, o governo inicia 2015 também com a preocupação de melhorar o financiamento das contas externas. No caso da balança, a equipe econômica tem limitações fiscais para conceder medidas de estímulo à indústria para aumentar a competitividade, como já foi feito no passado.
O resultado atual da balança comercial também tem sido afetado por outros fatores. O crescimento mais fraco da China faz com que a demanda mundial por commodities recue, o que derruba os preços dos produtos. E há um efeito de ociosidade, principalmente no caso do minério de ferro, por causa da maturação dos investimentos feitos no passado que agora provocam um aumento da oferta do produto.
No mercado, os analistas também não trabalham mais com um superávit. "Inevitavelmente, o saldo em 2014 será negativo", avaliou o economista da Tendências Consultoria Integrada Bruno Lavieri. A projeção da Tendências é de que a balança comercial termine o ano com saldo negativo em US$ 1,7 bilhão.
A Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB) também passou a projetar um déficit para este ano, de US$ 4,7 bilhões.