O governo brasileiro tem se articulado internacionalmente para transformar o etanol e a biomassa da cana-de-açúcar em uma commodity. Por definição, commodities são os produtos negociados em bolsas internacionais, o que tornaria os preços do etanol mais vulneráveis às condições do mercado.
"O Brasil defende a democratização da energia. Hoje, apenas 20 países produzem energia para 200 países. Queremos aumentar a participação dos países produtores de energia em 100 ou 120 países. Estamos atuando internacionalmente para quebrar mitos que envolvem o etanol, como o que diz que sua produção destrói a Amazônia ou a de que faltariam alimentos caso aumentasse a produção do combustível", afirmou ontem, na plenária principal do último dia do Ethanol Summit, em São Paulo, a diretora-geral do departamento consular do Ministério das Relações Exteriores, Mariangela Rebuá de Andrade Simões.
O evento, um dos mais importantes do mundo na área das energias renováveis, tratou do tema "A cana-de-açúcar e a economia de baixo carbono". O jornalista Paulo Sotero, diretor do Woodrow Wilson Center, nos Estados Unidos, ressaltou que a transformação do etanol em commodity é uma tendência no setor energético. "Não é à toa que as grandes petroleiras estão entrando no mercado do etanol: elas sabem que a comoditização é o caminho", avaliou.
Poluição
O presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Cledorvino Belini, trouxe dados sobre a emissão de gases do efeito estufa para mostrar que o uso do etanol é menos poluente e é uma das alternativas mais viáveis para a diminuição dos problemas climáticos. De acordo com Belini, a combustão de mil litros de etanol produz 309 quilos de gás carbônico (CO2), enquanto a queima da mesma quantidade de gasolina emite 3.368 quilos de CO2. Ainda segundo o presidente da Anfavea, a frota brasileira, que nos últimos anos foi incrementada com veículos flex, emite 80 gramas de CO2 a cada quilômetro na Europa esse índice é de 130 gramas de CO2 por quilômetro. "Às vezes nosso sistema é desvalorizado dentro do nosso país, mas ele é muito valorizado nos Estados Unidos e na Europa. O Brasil conquistou autossuficiência de combustíveis graças ao etanol. E não há conflito com a produção de alimentos. Aliás, somos o único país do mundo capaz de produzir etanol e alimentos sem problemas", ressaltou Belini durante o debate.
Transporte individual
O professor da Universidade de São Paulo (USP) e ex-ministro do Meio Ambiente José Goldemberg afirmou que o principal vilão no caminho até a sustentabilidade é o transporte individual. "Um terço da energia produzida no mundo é destinada para o transporte. O etanol de cana-de-açúcar é a energia mais limpa que temos disponível. Nos Estados Unidos é necessária a queima de carvão para a produção de etanol de milho. Por isso digo que o biocombustível feito no Brasil é o que apresenta o melhor ganho energético", disse.
O repórter viajou a convite da Scania.