Concorrência fraca
A chance de queda de preços nas bombas está mais relacionada às distribuidoras concorrentes da Petrobras. Mas a falta de infraestrutura de armazenagem de empresas como Ale e Raízen limita o impacto das importações de combustível.
Impacto na energia
A conta de luz sofreu reajustes em razão do uso de termelétricas. Por mais que os custos de geração baixem com a queda do petróleo, o consumidor dificilmente verá redução em sua fatura. É que os preços reagem mais ao nível dos reservatórios hidrelétricos, que estão baixos.
Risco de deflação
Para a consultoria Empiricus, o petróleo mais barato pode não ser tão bom assim. "A queda do petróleo exacerba temores de deflação, cujo resultado prático pode ser o abandono do processo de recuperação da economia mundial", afirma a empresa.
Os preços do petróleo caíram mais de 50% em meio ano e não há economia que ignore um tombo desses. Para o bem ou para o mal, a commodity mexe com os investimentos produtivos, a balança comercial, as finanças públicas e a inflação. No Brasil, os efeitos tendem a ser mais positivos que negativos, mas o benefício não será tão grande quanto poderia ser.
INFOGRÁFICO: Veja a influência do preço do petróleo na economia global
Os investimentos da Petrobras provavelmente cairão, e a União e os estados produtores de petróleo vão arrecadar menos royalties. Por outro lado, o saldo do comércio exterior vai melhorar, com reflexo direto no PIB, e a inflação deve perder força. Mas não se sabe até que ponto o recuo das cotações chegará às bombas de combustíveis. Se é que chegará.
Perde e ganha
O barateamento do petróleo favorece países importadores, que saem ganhando ao gastar menos com as compras de óleo bruto e derivados. É o caso do Brasil e da maior parte do mundo. Quem perde é um clube muito mais restrito, o dos grandes exportadores da commodity, como Rússia, Venezuela e países árabes.
É por isso que a economia global costuma crescer mais com o petróleo barato. Economistas do Fundo Monetário Internacional (FMI) avaliam que o PIB mundial pode ter um acréscimo de 0,3% a 0,7% neste ano e de 0,4% a 0,8% em 2016. Em texto publicado semanas atrás, eles mencionaram três impactos principais para os países importadores: a renda real cresce, os custos de produção diminuem e a taxa de inflação recua.
A consultoria britânica Oxford Economics simulou o que pode ocorrer com o PIB de 45 países caso o barril do tipo Brent custe em média US$ 40 em 2015 e 2016, em comparação aos efeitos de uma cotação mais alta, em torno de US$ 84. A conclusão foi de que o preço mais baixo deve acelerar o crescimento de 35 desses países, entre eles o Brasil. Por aqui, a economia ganharia um impulso de 0,6%, crescendo 2,2% ao ano nesse biênio, em vez de 1,6%.
Repasse incerto
Para que haja todo esse ganho, é preciso que matérias-primas e combustíveis fiquem mais baratos. Os custos da indústria petroquímica e os preços dos fertilizantes agrícolas tendem a reagir mais rápido, bem como os do querosene de aviação, que representa 40% dos gastos das empresas aéreas.
Com a gasolina e o diesel é diferente: assim como subiram pouco a partir de 2011, os preços na bomba dificilmente cairão muito agora. O governo pode até obrigar a Petrobras a reduzir os preços nas refinarias, para conter a inflação. Mas, em compensação, já avisou que quer retomar a cobrança da Cide sobre os combustíveis, como parte do ajuste fiscal.
"A Petrobras buscará recompor as perdas dos últimos quatro anos, quando vendeu combustíveis abaixo do preço internacional. Assim, não deve haver redução nos custos do transporte", avalia o economista Thiago Biscuola, da RC Consultores. Irineu Carvalho, do Itaú Unibanco, também não espera repasse ao consumidor. "Se houver, será pequeno", diz.
Segundo Carvalho, embora seja positivo para o Brasil em um primeiro momento, no longo prazo o baixo preço do petróleo pode prejudicar o país. "O Brasil caminhava para ser exportador líquido e no futuro seria beneficiado por um cenário de preços mais altos."
Consequência direta
Freio nos investimentos da Petrobras afeta a economia brasileira
A Petrobras planejava investir US$ 221 bilhões entre 2014 e 2018. A meta, abalada pela revelação do esquema de corrupção na estatal, desmoronou com a derrocada das cotações do petróleo.
Um dos pressupostos do plano era de que o barril custaria cerca de US$ 100 de 2015 a 2017. Hoje vale menos da metade, o que fez a própria diretoria admitir que os desembolsos cairão. Isso terá reflexos na economia, pois os investimentos da estatal que em 2013 correspondiam a mais de 2% do PIB brasileiro afetam uma longa cadeia de fornecedores.
Pré-sal
A consultoria escocesa Wood Mackenzie, que analisou dados de 2,2 mil campos de petróleo, concluiu que o barril a US$ 40 inviabiliza apenas 1,6% da produção mundial. O problema da Petrobras é que o pré-sal faz parte desta minoria: a companhia calcula que, para ser rentável, a produção teria de ser vendida por US$ 40 ou US$ 45 o barril.
"No setor de petróleo, se investe hoje para produzir daqui sete a 15 anos. O que determinará a rentabilidade é o preço na hora da venda, que hoje é desconhecido", diz Alberto Machado, coordenador do MBA em Petróleo e Gás da Fundação Getulio Vargas (FGV). "Até em razão de sua situação tumultuada, a empresa jogará para a frente a decisão de investimento."
O economista Irineu Carvalho, do Itaú Unibanco, não vê impacto tão forte em 2015, pois "muito do investimento da Petrobras já está contratado". "Impacto maior virá nos anos seguintes, se a cotação baixa persistir", avalia.
Preço em queda
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