Especialista em contas públicas, o economista Fabio Giambiagi, do BNDES, aposta que o país viverá "mais do mesmo" nos próximos dois anos e chegará a 2015 em desequilíbrio, com necessidade de cortes profundos para evitar o desastre. Fabio Giambiagi, especialista em contas públicas, define como "quadrilátero da incerteza" a condução da política econômica, sem metas claras para a inflação e o superávit primário.
Como o senhor define a situação atual da economia?
Com uma expressão invertida de Carlos Menem, o ex-presidente argentino. Em 1991, no começo da convertibilidade, quando a população ainda não tinha se enamorado da regra de paridade de um para um, ele disse: "Estamos mal, pero vamos bien", querendo dizer que depois as coisas melhorariam. Eu diria que "estamos bien, pero vamos mal". Por que estamos bem? Os salários crescem, o desemprego está no piso histórico, a maioria das pessoas está satisfeita. Por que vamos mal? O déficit em conta corrente está aumentando em velocidade que assusta, a inflação só pode ser contida perto do teto de 6,5 %. Qualquer economista que tenha vivido outras crises projeta esse filme para a frente e não gosta do final.
O que é mais preocupante: o câmbio ou a inflação resistente?
As duas coisas, pois são a expressão do mesmo problema: a incapacidade da oferta de reagir adequadamente aos estímulos da demanda. A pressão vem dos dois lados.
Qual é a sua receita para a economia voltar aos trilhos?
Há três medidas que o governo deveria adotar. Elevar os juros na intensidade requerida para sinalizar claramente que fará a inflação futura voltar a ser de 4,5% e não "alguma coisa entre 5,5% e 6%". Adotar uma regra pela qual o conjunto das despesas do governo tenha crescimento limitado a uma certa taxa, por exemplo, metade do crescimento do PIB. E anunciar que, por ocasião do envio do projeto de orçamento de 2014 ao Congresso, em agosto, a meta de superávit primário para o ano que vem não virá mais com a possibilidade de adotar descontos.
A presidente Dilma deu vários sinais de que não concorda com a receita clássica de corte de gastos para ajudar no controle da inflação. Como se resolve essa equação?
Não se resolve. Querer curar desequilíbrios sem que as causas sejam atacadas é como querer emagrecer, mas deixando muito claro ao médico que não se pretende comer menos e muito menos fazer exercícios. É preciso controlar o gasto, se não a economia vai começar a sacolejar como uma panela de pressão. A despesa primária do governo central era de menos de 14% do PIB em 1991 e vai a caminho de 23% do PIB hoje.
Qual é o seu cenário para os próximos dois anos, considerando que estamos em um ano pré-eleitoral e todas as decisões já têm relação com a política?
Meu cenário é que teremos um 2014 com mais do mesmo: um pouco de subida de juros, mas apenas o suficiente para que a inflação não estoure a meta; um pouco de controle do gasto, mas sem prejudicar a equação política; e mais déficit externo, mas ainda financiado por investimentos, entrada de capitais de curto prazo e talvez alguma perda de reservas. Já em 2015 teremos que chamar o Miguel Falabella para apresentar um novo "Sai de baixo", porque, qualquer que seja o presidente, enfrentará um dilema cruel: se não houver mudanças, os desequilíbrios serão crescentes e chegaremos a 2018 em condições nas quais prefiro não pensar. Se houver mudanças, terão de ser para valer e os ministérios vão ter que passar um ano vivendo a pão e água.