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História

Exclusividade da realeza

A afeição chinesa pela pedra explodiu por volta de 1600 a.C., quando os reais da dinastia Shang começaram a dormir em travesseiros de jade, assinar decretos com carimbos de jade e a sepultar seus entes queridos em roupas feitas com ladrilhos. A lenda sugere que somente os imperadores podiam possuir o jade esculpido, e que a busca por uma pedra especialmente apreciada podia custar as vidas de 10 mil soldados. Não é uma coincidência que os caracteres chineses para "rei" e "jade" têm a mesma base.

O idioma chinês contemporâneo é repleto de referências ao jade – a palavra é usada para descrever mulheres lindas e puras –, e muitas pessoas afirmam que a pedra possui poderes medicinais. Uma lasca de jade usada em volta do pulso pode acalmar uma criança assustada, melhorar a circulação ou absorver energias ruins, dizem os chineses. Segundo uma crença muito antiga, o jade fornece uma ligação entre os mundos físico e espiritual.

Algumas dessas crenças são reforçadas pela tendência do jade em mudar de cor quando usado sobre o corpo. "Quando o jade se esfrega na pele ele se torna mais macio e liso, e quem o usa fica mais feliz, o que provavelmente aumenta sua imunidade", afirma Wang Shiqi, geólogo da Universidade de Pequim especializado em jade.

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Muçulmanos não veem importância no material, mas lucram com ele

Numa região assolada por conflitos étnicos, é notável que o maná pareça ter enriquecido tanto os uigures de Khotan, nativos que falam em turco e são fiéis ao Islã, e os mais recém-chegados chineses da etnia han, frequentemente vistos como colonizadores mercenários. Os uigures fizeram sua fortuna basicamente coletando jade do rio e o vendendo a intermediários chineses. Como os muçulmanos devotos são proibidos de negociar certas imagens representacionais, os han chegaram para monopolizar os entalhes e a venda de figuras budistas, tigres raivosos e as miniaturas de repolho que são muito populares entre os consumidores chineses.

"O jade não possui significado para nossa cultura, mas estamos gratos a Alá que os chineses sejam loucos por ele", disse Yacen Ahmat, um comerciante uigur que passa sete dias por semana em meio às multidões do bazar de jade de Khotan, um frenético mercado dominado por garimpeiros de pele amarelada tentando vender seus achados a experientes atacadistas – ou aos desafortunados turistas que muitas vezes pagam preços exagerados.

Hu Xianli, um autoproclamado fanático por jade da província de Zhejiang, ao leste, disse ter sido ludibriado inúmeras vezes ao longo dos anos. Nas melhores ocasiões, ele pagou um preço brutalmente caro por espécimes medíocres. Na pior, ele confundiu rochas quimicamente tratadas por maravilhas de gordura de carneiro. Engenheiro férreo aposentado, ele comparou seu relacionamento com o jade a uma educação universitária cara demais. "Naqueles anos iniciais eu pagava muitas mensalidades, mas, agora que finalmente me formei, não sou enganado tão facilmente", disse Hu, 59 anos, enquanto uma onda de incansáveis vendedores, as mãos cheias de pedras do tamanho de ovos, erguia a mercadoria à frente de seus olhos.

Até onde se pode lembrar, o rio lamacento que corre através desta cidade-oásis no sul de Xinjiang sempre teve muitas pedras macias e brancas, suas bordas brutas polidas pelas águas que rolavam para baixo pelas montanhas do Tibete. E, até onde se pode lembrar, essas pedras – um tipo de jade semitranslúcido – tinham o valor de, bem, um monte de pedras de rio.

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Lohman Tohti, 30 anos, se re­­cor­­da de, ainda criança, arremessar pedaços do tamanho de melões dessas pedras dentro de sacos de areia – que eram usados pa­­ra brecar as cheias do apropriadamente intitulado Rio Jade Branco. Quan­do os compradores chineses começaram a chegar por aqui, no início da década de 1990, e os locais ficaram sabendo do potencial valor das pedras, seu tio fez um acordo invejável: ele trocou uma pedra com a circunferência de um porco bem alimentado pela vaca magra de seu vizinho. "Hoje meu tio seria um milionário", diz Tohti, agora um comerciante de jade.

Atualmente Khotan tem loucura por jade, ou ao menos pelas riquezas que a pedra trouxe a uma cidade cujo último período de prosperidade havia ocorrido há alguns milhares de anos, quando comerciantes de Roma e Cons­tantinopla faziam sua rota a Xi’an, então capital do império chinês e a ponta oriental da Rota da Seda.

Grama por grama, o jade mais fino se tornou mais valioso que ouro, com suas pepitas mais caras, de jade "gordura de carneiro" – chamado assim por sua consistência de mármore branco –, chegando a US$ 3 mil por 28 gramas, um aumento de dez vezes em relação a uma década atrás.

Novos ricos

A explosão do jade, que parece ter alcançado um ritmo frenético nos últimos dois anos, foi estimulada pelos chineses, cuja riqueza recém-obtida e uma afinidade de 5 mil anos pela pedra transformaram os plantadores de algodão de Khotan em magnatas do jade. "O amor pelo jade está em nosso sangue e, agora que as pessoas têm dinheiro, todos querem uma pedra em volta do pescoço ou em sua casa", disse Zhang Xiankuo, um vendedor chinês, enquanto abria um cofre para exibir os itens esculpidos mais caros de sua empresa – entre eles um par de cisnes se beijando, com valor de varejo de US$ 150 mil, e uma execução contemporânea de uma mulher da dinastia Tang, seus seios insolentemente expostos, que pode ser comprada por US$ 80 mil.

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Outro motivo por trás da elevação dos preços do jade, ao menos segundo os comerciantes, é que ele está se tornando cada vez mais escasso. Ao longo da década passada, tratores e escavadoras destruíram as margens do Rio Jade Branco várias vezes seguidas. Até a prática ser proibida, há três anos, empresas de mineração, algumas pertencentes a autoridades do governo local, desviavam o rio em sua busca para encontrar novas jazidas.

Mesmo com o jade de rio estando difícil de encontrar, a promessa de riqueza instantânea traz famílias inteiras ao rio, onde eles podem ser vistos, cabeças baixas, esquadrinhando as margens. Os sortudos vão diretamente ao mercado, onde multidões de homens uigures com chapéus decorados lançam olhares provocativos e negociam seus mais novos achados.

Bolha

Os céticos, porém, dizem que a alta de preços deve mais à excitação do que à escassez. Wang Chunyun, um especialista em jade do Instituto Guangzhou de Geoquímica, diz que um grosso filão inexplorado de jade branco se estende através das montanhas Kunlun, passando por Xinjiang e pelo Tibete. A pedra também pode ser encontrada no resto do mundo, na Austrália, Coreia e Polônia, onde a falta de demanda a mantém intocada. "A escassez de jade é um mito", disse Wang numa entrevista por telefone. "Eu nunca disse isso aos negociantes chineses porque seria um golpe psicológico forte demais", acrescentou.

De volta ao mercado, Ai Shan Zhang, um próspero vendedor uigur, balançou a cabeça e sorriu quando foi sugerido que o jade de Khotan pode não ser tão precioso quanto um diamante. O entusiasmo chinês pela pedra é tão grande, disse ele, que ele parou de usar seus ornamentos, especialmente ao se reunir com autoridades do governo cujos favores são algumas vezes necessários no curso dos negócios. "Quando percebem uma peça bonita em volta de meu pescoço, eles a pedem emprestada", explicou ele. "E, assim que lhes entrego, eles nunca me devolvem."

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