Ouça este conteúdo
Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), realizada pelo IBGE, apontam que uma parcela expressiva das mulheres foi empurrada para fora do mercado de trabalho durante a pandemia da Covid-19. Entre o terceiro trimestre de 2019 e o mesmo período de 2020, a ocupação feminina diminuiu três pontos percentuais, o que representa 5,7 milhões menos brasileiras ocupadas. Além dessas, mais 504 mil mulheres amargaram o desemprego e 2,7 milhões perderam postos de trabalho informais, perfazendo 8,6 milhões de cidadãs a menos na força de trabalho nacional.
Conforme destaca o Dieese, as trabalhadoras domésticas sentiram forte efeito da pandemia nas suas ocupações: foram 1,6 milhão de mulheres que perderam seus trabalhos; 400 mil tinham carteira assinada, as outras não tinham vínculo formal. Já o contingente de trabalhadoras informais (exceto as domésticas), passou de 13,5 milhões para 10,5 milhões, indicando outro grupo que apresentou perda expressiva de trabalho e a renda.
Mulheres com salários menores
Na contramão, entre as mulheres com maior escolaridade e que passaram a realizar seu trabalho em casa, o rendimento médio por hora aumentou na comparação de 2019 para 2020: entre as negras, passou de R$ 10,95 para R$ 11,55 e entre as não negras, de R$ 18,15 para R$ 20,79. A avaliação, entretanto, é de que "essa elevação se deu principalmente por efeito estatístico, quando da saída de mulheres com menores rendimentos do mercado de trabalho e a permanência daquelas com maiores salários", avalia o Dieese.
A leitura da Pnad Contínua permite ainda notar que a crise sanitária e econômica acentuou a distância salarial entre homens e mulheres. Em 2020, elas seguiram ganhando menos. Quando ocuparam cargos de gerência ou direção, o rendimento médio delas foi de R$ 32,35 por hora; para eles, R$ 45,83 - diferença de R$ 13,48 contra R$ 9,21 observada em 2019. Salários inferiores pagos às mulheres se mantêm inclusive para ocupações que exigem formação de nível superior, com pagamentos que se aproximam de R$ 5 mil para funcionárias mulheres e ultrapassam os R$ 8 mil para colaboradores homens.
Em todo o país, os únicos estados que viram a taxa de desocupação feminina encolher de 2019 para 2020 foram Piauí, Amapá e Pará; todos os outros tiveram índice maior no ano da pandemia.