O BNDESPar e o BTG Pactual foram os parceiros escolhidos pelo empresário Abílio Diniz para tentar concretizar a união do Pão de Açúcar e do Carrefour no Brasil, em uma complexa operação para não ferir acordo de acionistas existente na varejista brasileira.

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Após semanas de troca de farpas entre Diniz e o sócio Casino no controle do Pão de Açúcar, foi revelado nesta terça-feira um plano que, se aprovado, criará um grupo com domínio sobre 27 por cento do varejo brasileiro.

A proposta pelas operações brasileiras do Carrefour foi feita por meio da Gama, fundo do banco de investimentos BTG Pactual, que conta com apoio do braço de participações do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, BNDESPar.

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Diniz e Pão de Açúcar estavam impedidos de negociar diretamente com o Carrefour sem o consentimento do Casino, devido a cláusulas do acordo de acionistas firmado em 2006. O empresário brasileiro e o Casino dividem o controle do Pão de Açúcar por meio da holding Wilkes. De qualquer forma, a união entre Pão de Açúcar e Carrefour no Brasil não sairá sem a aprovação do sócio francês.

A proposta para fusão de Pão de Açúcar e Carrefour no Brasil intermediada pelo BTG Pactual motivou forte alta nas ações da varejista brasileira na Bovespa, com salto de 12,6 por cento.

"O mercado vê um potencial muito grande em termos de sinergias", afirmou Flávio Barros, gestor na Grau Gestão de Ativos. "O envolvimento do BNDES dá maior segurança. O mercado está gostando, mas é necessário prestar maior atenção aos possíveis desdobramentos."

Em Paris, os papéis das varejistas francesas envolvidas com o Pão de Açúcar seguiram caminhos opostos.

As ações do Carrefour subiram quase 4 por cento, com o entendimento de que o negócio daria à empresa uma posição de maior destaque no varejo brasileiro, de rápido crescimento.

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Já os papéis do Casino recuaram 5,6 por cento, diante do revés para a companhia frente à sua principal rival francesa.

Reorganização

A proposta envolvendo o Carrefour no Brasil surge depois que o Pão de Açúcar comprou nos últimos anos Ponto Frio e Casas Bahia, consolidando sua liderança no varejo no país.

As duas aquisições ainda não passaram pelo crivo do órgão antitruste no país, o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).

A operação atribui ao atual Grupo Pão de Açúcar um valor de 17,14 bilhões de reais.

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Pelos termos apresentados, a Gama e o BNDESPar formarão a Nova Pão de Açúcar (NPA). Após uma série de etapas, o Carrefour terá sua operação no Brasil incorporada pelo Pão de Açúcar.

No final de toda a reorganização societária, os atuais acionistas do Pão de Açúcar mais o BTG e o BNDESPar ficariam com 50 por cento da NPA, além de uma participação de 11,7 por cento na matriz do Carrefour, na França. O Carrefour, enquanto isso, teria os 50 por cento restantes da NPA.

O plano estabelece ainda que a NPA será listada na Bovespa e terá recibos de ações negociados na Bolsa de Valores de Nova York. O capital da NPA será formado apenas por ações ordinárias.

A proposta prevê que a aquisição das lojas do Carrefour no Brasil pela Gama vai ocorrer com investimento de 1,7 bilhão de euros do BNDESPar e de 300 milhões de euros pelo BTG Pactual, que também vai arcar com dívida de 500 milhões de euros da varejista francesa no Brasil.

Segundo a consultoria que assessora o Pão de Açúcar, Estáter, uma eventual união da rede com o Carrefour no Brasil têm potencial para reduzir custos e despesas, além de elevar o Ebitda (sigla em inglês para lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) da nova empresa combinada em entre 1,3 bilhão e 1,7 bilhão de reais ao ano.

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Já de acordo com estudo elaborado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), a união das duas varejistas resultaria em ganhos de sinergia da ordem de 8,4 bilhões de reais.

"Teremos ganho de escala significativo caso seja aprovada a operação", afirmou a jornalistas o sócio do BTG e ex-presidente-executivo do Pão de Açúcar, Claudio Galleazzi.

Concorrência

A eventual união do Pão de Açúcar e do Carrefour Brasil exigirá uma análise bastante cuidadosa da operação por autoridades antitruste, já que o varejo é um setor muito sensível para o consumidor.

Ainda assim, advogados ouvidos pela Reuters veem chances reduzidas de anulação do negócio pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).

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Isso porque, nos últimos anos, o Cade tem tratado o segmento de varejo a partir de uma abordagem local, avaliando a presença das companhias nas cidades em vez de fazer uma análise mais nacional. Isso aumenta as chances de restrições, mas reduz a possibilidade de impedimento de toda a fusão.

"O setor de supermercados tem uma vantagem: cada cidade é um mercado, e o número global não deverá ser levado em consideração pelo Cade", disse o advogado especialista em direito concorrencial Sérgio Varella Bruna, sócio do escritório Lobo e De Rizzo.