Em Curitiba, os clientes do Extra e Pão de Açúcar já não precisam sair de casa para ir ao supermercado — basta sacar o celular do bolso. A startup James, adquirida pelo grupo, deve chegar aos principais mercados brasileiros até o fim do ano.
Mas o Grupo Pão de Açúcar (GPA) não está sozinho nesta guerra. Um dos seus principais concorrentes no multivarejo, o Carrefour, também estuda estratégias para entregar alimentos nas mãos dos clientes em questão de minutos.
O anúncio da aquisição do James ocorreu em dezembro do ano passado (2018). No mesmo mês, o Carrefour firmou parceria com a Rappi (outrora parceira do GPA), startup que faz exatamente a mesma coisa que o James: a entrega de todo e qualquer tipo de produto.
A diferença é que a Rappi, primeiro startup unicórnio da Colômbia, atua no Brasil e na América Latina, e atua em parceria com a rede francesa. Já o James, até então um player de relevância regional, foi incorporado à estrutura do GPA; e passa a atuar como uma empresa independente dentro do grupo.
A aposta nos “superapps” para entregar alimentos é considerada central na estratégia digital dos dois grupos que lideram o setor supermercadista brasileiro. E foram alvo de muita curiosidade por parte dos investidores nos balanços anuais do GPA e Carrefour, respectivamente na última quinta-feira (21) e na tarde desta quarta-feira (27).
“Não posso falar pelo competidor, posso falar por nós”, alfinetou a CEO do Carrefour Soluções, Paula Cardoso, questionada sobre a estratégia de se aliar a um parceiro, ao invés de adquirir ou criar o próprio aplicativo.
“Nós certamente queremos acelerar vendas em alimentos. Estamos fazendo uma parceria com o líder de mercado que é a Rappi e é uma relaçã ganha-ganha. Alavancando eles com a nossa experiência operacional, e acelerar a nossa última milha com eles. Não significa que é a única estratégia que o Carrefour vá adotar”, explicou a executiva.
Do lado do GPA, a leveza da operação do James é motivo de comemoração. Como o setor de delivery se acirrou muito, nos últimos anos, hoje o custo de aquisição de um cliente é considerado alto; ou seja, muitas vezes os aplicativos gastam mais dinheiro do que ganham ao fazer uma venda.
No caso do James, segundo o grupo, o custo de aquisição é muito inferior à média do mercado. Isto porque o aplicativo já nasce totalmente integrado à estratégia multiformato, multicanal e multiregião do próprio Pão de Açúcar, o que empurra seus custos para baixo.
Expansão nacional
Bastante otimista com os resultados em Curitiba, sua praça de teste, o Grupo Pão de Açúcar quer levar a solução para a cidade de São Paulo já no segundo trimestre de 2019. A meta é chegar a 10 cidades até o fim do ano.
A meta é tornar o James um player robusto, em nível nacional, no setor de alimentação. Mas o grupo não descarta expandir com força para outras categorias.
O aplicativo manteve, em Curitiba, sua atuação por fora da rede do GPA, e faz desde delivery tradicional (de comidas prontas) até a entrega de itens de papelaria. As categorias fora do alimentar, no entanto, não são a prioridade imediata de expansão dentro do grupo.
Lucro acelerado
O e-commerce, que não se restringe à parceria com a Rappi, foi o segmento de maior crescimento no varerjo do Carrefour, no último trimestre de 2018. O segmento já representa 10% das vendas totais, quase dobrando sua participação em relação ao mesmo período (quarto trimestre) do ano anterior (2017).
O marketplace já atingiu o breakeven, ou seja, já traz mais receitas do que gastos, o que significa que deixa de ser um investimento do grupo — e passa a ser fonte de lucratividade.
O Carrefour também concluiu a implantação do “clique e retire” com foco em outros produtos (que não alimentos) em todos os hipermercados da rede.
A estratégia digital da rede inclui ainda um sistema de “scan & go”, em que os clientes podem fazer as compras escaneando os produtos por meio de um aplicativo, por onde é possível realizar o pagamento. O foco deste serviço é na bandeira de proximidade Carrefour Express.
Corrida contra o tempo
Quando comparado com outros setores, os supermercados tinham “gordura” para queimar na corrida em direção ao mundo digital. No varejo, produtos como eletrônicos e vestuário chegaram primeiro ao mundo online. Mas não demoraria muito para os alimentos entrarem na roda.
Com a vantagem de já terem expertise em um setor complicado como o de alimentos, Carrefour e Pão de Açúcar tentam sair na frente, e se aliam a players ágeis do meio digital para integrarem suas boas operações do mundo off ao online.
Mas as redes ainda brigam entre si. No balanço do Grupo Pão de Açúcar, um dos pilares do eixo de transformação digital é:
“Forte crescimento [registrado] do e-comemrce alimentar de 63,5% no 4.º trimestre de 2019, reafirmando a liderança no setor”.
Enquanto um dos principais objetivos do Carrefour E-business consiste em:
“Assumir a liderança no varejo de alimentos online, [com a] construção do ecossistema, que nada mais é do alavancar o on e offline, usando startups para acelerar este processo”.
Briga que deve colocar alimento de forma mais rápida e prática na mão do consumidor.