O bom resultado do PIB divulgado ontem mostra que a recessão no Brasil foi curta, mas não foi uma marolinha. A crise econômica atingiu em cheio o Brasil através da desaceleração do crédito e da queda abrupta nas exportações, em especial de produtos manufaturados. A disparada do dólar também encostou contra a parede companhias que usavam derivativos cambiais em suas operações financeiras, como Aracruz e Sadia. O choque, porém, foi breve e economistas já calculam que o país voltará a crescer forte em 2010, em torno de 4%.
"No ano que vem vamos ver um pibão no Brasil. Vários investimentos começarão a maturar, o Minha Casa Minha Vida estará mais veloz, haverá de novo aumento real do salário mínimo e é ano eleitoral, em que o governo normalmente gasta mais", analisa Francisco Pessoa, economista da LCA Consultores. Em sua avaliação, o crescimento continuará sendo puxado pelo consumo interno, sustentado por uma massa salarial que não sofreu tanto com a crise.
Até o começo de outubro de 2008, a economia brasileira crescia a uma taxa acima de 6% número que ficou negativo no último trimestre de 2008 e no início de 2009. A produção industrial retrocedeu para o nível de 2004 e deve fechar o ano ainda 7% abaixo do visto em 2008. "Foi uma desaceleração brutal, com diferenças setoriais", destaca Pessoa. Sofreram mais os produtores de bens de capital, como máquinas e equipamentos, fabricantes de caminhões e outros produtos duráveis.
A ação do governo, que através do Banco Central liberou recursos do compulsório para o setor bancário, e que reduziu impostos de setores importantes, como o automobilístico e o de materiais de construção, ajudou a evitar que as expectativas entre empresários e consumidores entrassem em uma espiral declinante que retardaria a retomada. O Índice de Confiança Empresarial (ICE), calculado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), caiu de 58 pontos para 47 pontos de julho do ano passado até janeiro deste ano. Na última pesquisa, em julho, o indicador já havia voltado para os 58 pontos.
Crédito
"A atuação dos bancos públicos também ajudou bastante o país a passar bem pelo teste da crise", coloca o economista Júlio Gomes de Almeida, professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). "Hoje eles são responsáveis por 40% do crédito no Brasil e, no caso do BNDES, pelas linhas de longo prazo mais usadas pelas empresas." Desde de setembro do ano passado, a carteira de crédito das grandes instituições privadas cresceu apenas 9%, enquanto no setor público o aumento foi de 25%.
O economista Rogério César Souza, do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) ressalta que a crise derrubou os setores que eram os mais dinâmicos da indústria brasileira nos últimos anos e que contrabalançavam retrações em áreas que vinham perdendo espaço por causa do câmbio desfavorável, como calçados e vestuário. "Por isso um crescimento sustentável da indústria só vai ser possível quando os investimentos ganharem fôlego e reativarem as áreas atingidas pela crise. Projetos do setor público e juros baixos por um período longo ajudariam nesse processo", diz Souza.
O investimento privado deve passar mais algum tempo em compasso de espera porque a utilização da capacidade instalada na indústria continua baixa, em torno de 80%. Antes da crise, estava em 84% quanto mais alto o indicador, maior o incentivo que as empresas têm em investir na expansão da produção. O setor siderúrgico é um exemplo desse processo. Empresas como Usiminas e CSN, que tinham planos de expansão, além de adiar investimentos, tiveram de desligar altos-fornos. Agora, elas estão na fase de religar as fábricas dos 14 fornos instalados no Brasil, seis foram paralisados , para só daqui alguns meses fazer novos investimentos.
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A edição de amanhã da Gazeta do Povo irá trazer reportagem especial sobre a retomada da Economia e o aniversário de um ano da crise mundial