Para 88% dos brasileiros a crise econômica já chegou à sua vida pessoal, levando a um corte de gastos, mudança de hábitos de consumo e à busca por alternativas para aumentar a renda. As conclusões sobre o Brasil fazem parte de um levantamento feito pelo instituto Data Popular, especializado em hábitos de consumo das classes C, D e E, em cinco países da América Latina. O objetivo do trabalho foi descobrir como os latino-americanos estão enfrentando as dificuldades econômicas.

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Foram entrevistadas 2.644 pessoas em cinco países: Brasil, Argentina, México, Chile e Uruguai, representantes de todas as classes sociais. A margem de erro é de 1,99 ponto percentual. A pesquisa do Data Popular foi divulgada nesta quinta-feira (9), em Madri, durante o XIV Encontro de Jornalistas latino-americanos promovido pelo banco Santander.

De acordo com 58% dos entrevistados, a América Latina passa por um momento econômico ruim, sendo que os mexicanos (69% dos entrevistados) e argentinos (60%) são os mais pessimistas. Os brasileiros aparecem em terceiro, com 55% dos entrevistados considerando o momento ruim ou péssimo para a economia. Do total de pessoas da amostra, nos cinco países, 45% disseram que esta é a pior crise econômica que já atravessaram. Entre os brasileiros, 97% disseram que o país atravessa uma crise econômica e 52% desse total avaliaram o momento como a pior crise econômica já vivida no país.

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Pelo menos 72% dos entrevistados afirmaram ter tomado alguma atitude para aumentar seus rendimentos. Entre os brasileiros, esse percentual é de 71%, atrás de México (75%) e Argentina (72%). No Brasil, 68% dos entrevistados disseram ter feito um trabalho extra para melhorar seus ganhos. Entre as classes econômicas mais baixas, que têm maior peso no estudo, a forma de aumentar a renda foi “fazendo um bico”.

“Claramente trata-se de um trabalho não legalizado, na economia informal. Constatamos que na Páscoa, por exemplo, muita gente fez ovos em casa para vender”, diz Renato Meirelles, presidente do Data Popular.

Ajuste caseiro

Pelo menos oito em cada dez latino-americanos mudaram seus hábitos de consumo para enfrentar a crise, mostrou o Data Popular. À frente dos demais países, 88% dos entrevistados no Brasil afirmaram ter mudado seu comportamento para reduzir gastos. Pelo menos 90% dos brasileiros entrevistados disseram ter economizado nas contas de casa; 84% deixaram de comprar alguns produtos no supermercado e 84% cortaram gastos com lazer.

“É o ajuste fiscal feito pela dona de casa”, diz Meirelles, lembrando que 88% dos brasileiros começaram a comprar em supermercados que fazem promoções com preços mais baixos e 83% passaram a consumir marcas mais baratas.

“Com o ganho de renda, a população que virou classe média ficou mais exigente com a qualidade dos produtos. A troca por uma marca mais barata não significa que essas pessoas estão comprando agora produtos de má qualidade”, explica o presidente do Data Popular, alertando que o levantamento mostrou que 88% dos brasileiros entrevistados buscam por melhores preços e 67% se informam sobre produtos mais baratos.

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O levantamento mostrou que os brasileiros (78% da amostra) são os que mais pechincham na hora da compra, seguidos pelos mexicanos (59%). Dos entrevistados no Brasil, 72% disseram fazer compras a prazo. Entre todos os países pesquisados, 63% dos entrevistados disseram que sem parcelamento não poderiam comprar os produtos a que se acostumaram. A pesquisa mostrou também que 42% dos brasileiros deixaram de pagar uma conta para pagar outra. “É o que se chama rodízio de contas”, afirma Meirelles.

O trabalho mostrou que a rede de relacionamento também ajuda a enfrentar o momento econômico adverso, com 50% dos entrevistados afirmando que compraram fiado no último ano, sendo 44% no Brasil. Outros 20% dos brasileiros entrevistados tomaram empréstimo com um amigo e outros 20% fizeram compras com um cartão de crédito emprestado.