Diante do desempenho fraco da economia, o governo decidiu pisar no acelerador e anunciou nesta segunda-feira um pacote R$ 2,7 bilhões para estimular o consumo, principalmente o de automóveis, e a aquisição de bens de capital. Assim como fez na crise de 2008 e 2009, o Planalto cortou impostos, liberou mais dinheiro para empréstimos e reduziu os custos de linhas de financiamento e, como naquela ocasião, a indústria automobilística foi a principal beneficiada. Segundo o ministro da Fazenda, Guido Mantega, as medidas são resultado de um compromisso "inédito" assumido entre governo, setor produtor e setor financeiro.
O governo zerou o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) dos automóveis de até 1.000 cilindradas e arrancou das montadoras um compromisso de reduzir a tabela de preços em 2,5%. Assim, o preço final dos populares vai cair perto de 10% a partir de hoje. Para os modelos com motor entre 1.000 e 2.000 cilindradas, a expectativa é de que o preço final sofra uma redução de 7%. "Isso atende à demanda do setor", afirmou o presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Cledorvino Belini. "Os estoques estão altos e é preciso fazer girar a máquina da indústria automobilística."
A redução vale até o fim de agosto, e o governo estima que deixará de arrecadar R$ 1,2 bilhão no período. As montadoras se comprometeram a não demitir durante a vigência do acordo. Modelos importados também serão beneficiados pela redução, mas o IPI deles continua 30 pontos porcentuais maior que o cobrado dos veículos nacionais.
Também foi fechado um acordo com os bancos, pelo qual eles vão reduzir o valor da entrada e taxa de juros, além de alongar os prazos de pagamento. Em troca, serão liberados parte dos recursos do compulsório, que hoje as instituições têm de manter depositados no Banco Central.
O objetivo do governo, explicou o ministro, é estimular o investimento o que, disse, não ocorrerá sem consumo. O setor automotivo, segundo Mantega, era o que mais enfrentava problemas na concessão de crédito, e o governo decidiu agir porque a indústria automobilística tem impactos importantes em toda a economia brasileira.
O governo decidiu, ainda, reduzir a alíquota do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) sobre empréstimos para pessoas físicas de 2,5% para 1,5%. Com isso, a arrecadação federal vai cair perto de R$ 900 milhões em três meses. Esse corte não tem prazo para acabar.
O governo também anunciou a redução dos juros cobradas pelo BNDES para bens de capital. "O resultado esperado é reduzir o custo do investimento", afirmou o ministro. A taxa para o financiamento de compra de máquinas para grandes empresas, por exemplo, caiu de 7,3% para 5,5% ao ano. O custo estimado da redução de juros é de R$ 619 milhões.
Meta distante
Mesmo com esse impulso adicional, Mantega avaliou que será difícil crescer 4,5% este ano, previsão oficial do governo. Ele avaliou que a crise internacional se agravou, e foi por essa razão que o governo adotou esse conjunto de novos estímulos.
Montadoras festejam incentivos
Agência O Globo
O presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Cledorvino Belini, festejou os incentivos anunciados pelo governo. Belini disse que a demanda do setor foi atendida, confirmou que os preços dos carros populares vão cair em torno de 10%. "As medidas vão destravar o crédito", disse. "As prestações vão caber no bolso do consumidor com a redução do IPI, do IOF e a liberação do compulsório."
Até recentemente, Belini era um dos maiores críticos da política do governo voltada à redução dos juros bancários, sob o argumento de que nada havia ainda surtido efeito para melhorar as vendas de automóveis.
Segundo o presidente da Anfavea, um dos grandes problemas enfrentados pelo setor automotivo hoje é a dificuldade para renovar estoques, que atualmente acontece em 45 dias, prazo superior ao período tido como normal, de 30 a 35 dias.