O secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Nelson Barbosa, disse ontem que, mantida a condução da atual política econômica, será possível que o Banco Central continue com a trajetória de queda dos juros até 2014. Mas a expectativa de que o IPCA fique distante do centro da meta em 2012, baseado em fatores como o reaquecimento do país em meados do próximo ano e a crise internacional concentrada basicamente na Europa, leva economistas a não acreditar que os juros nominais no Brasil ficarão abaixo de 9,5% no ano que vem. Segundo eles, a desinflação que virá do exterior nos próximos 13 meses será bem menos expressiva do que espera o Banco Central.
Embora os economistas avaliem que a zona do euro deverá enfrentar recessão no fim de 2011 e no primeiro semestre do próximo ano, ponderam que os EUA ainda vão crescer perto de 1,5%, enquanto o pouso suave na China deve permitir um crescimento de pelo menos 8%. Na avaliação dos especialistas, para que a Selic pudesse baixar mais e chegasse a 8% em 2012, seria necessário que a atual crise internacional atingisse um nível bem mais profundo, com efeitos depressivos na economia do Brasil tão ou mais graves do que os registrados entre julho de 2008 a março de 2009, quando a produção industrial caiu 14%, avalia o ex-diretor do BC Alexandre Schwartsman.
Com os sinais emitidos pelo BC, Schwartsman avalia que a Selic receberá mais dois cortes de 0,50 ponto porcentual: a primeira delas na quarta-feira da próxima semana e a segunda em janeiro. Ou seja, há mais chances de a taxa de juro real cair ainda mais, o que tende a estimular o nível de atividade e realimentar as pressões de alta da inflação. "A inflação só alcança a meta de 4,5% em 2012 com intervenção divina", disse. Para ele, o IPCA fechará o ano que vem entre 5,5% e 6%, depois de ter atingido 6,5% em 2011. O BC espera que o IPCA encerre o próximo ano em 4,7%; ontem, Nelson Barbosa disse que o índice deve desacelerar para um patamar abaixo de 5% em 2012.
Salário mínimo
O professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ) José Márcio Camargo pondera que, com um aumento nominal de 14% do salário mínimo em 2012, mais a decolagem dos investimentos em infraestrutura para a realização da Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016, no Rio, a economia vai se revigorar o que não vai permitir que os preços caiam com vigor no próximo ano. Ele espera que o PIB suba 3,2% neste ano e 3% em 2012, mas a demanda das famílias deverá ser mais vigorosa, pois, na sua estimativa, subiria 5,5% e 4%, respectivamente.
"A inflação vai reduzir a velocidade nos próximos três ou quatro meses. Porém, como o consumo doméstico está em expansão, como aponta a inflação de serviços, e a taxa de desemprego está nos menores patamares históricos, o IPCA deve retomar o vigor em meados de 2012 e fechar o próximo ano em 5,7%, depois de ter atingido 6,6% em 2011", disse Camargo, que também é economista-chefe da Opus Gestão de Recursos.