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INVESTIMENTOS

Para analistas, rebaixamento por outra agência é inevitável

O Brasil não deve escapar de um rebaixamento por mais uma agência de classificação de risco, possivelmente ainda este ano, e o cenário interno tem pesado mais que o externo, afirmam especialistas. Ou seja: a turbulência se mantém a curto prazo. Cristiano Oliveira, economista-chefe do banco Fibra, considera que o Brasil tem pouco a fazer para evitar um novo rebaixamento, porque a ação da Standard & Poor’s foi resultado do afastamento, nos últimos cinco anos, do modelo econômico baseado em metas de inflação, câmbio flutuante e responsabilidade fiscal –o chamado tripé macroeconômico.

“O rebaixamento é inevitável, não há nada a ser feito. As pessoas têm feito confusão, acreditando que o Brasil foi rebaixado pelo que aconteceu nos últimos meses. Na verdade, o downgrade foi pelo conjunto da obra nos últimos cinco anos”, afirma Oliveira.

Italo Lombardi, economista sênior do banco Standard Chartered em Nova York, vê como inevitável um segundo rebaixamento da nota do Brasil, provavelmente pela Moody’s, até o fim do ano. Já Luiz Eduardo Portella, sócio e gestor do Modal Asset, não descarta um rebaixamento também pela Fitch, que ainda mantém o Brasil a dois degraus de perder o grau de investimento. Na Moody’s, está apenas a um degrau, ou seja, um corte na nota fará o país perder o investment grade. “As agências estão de olho na resposta do ajuste fiscal. O esperado é que a Moody’s rebaixe também, e a Fitch corte em uma nota” diz Portella.

Ajuste fiscal

Levantamento do Itaú Unibanco mostra que o ajuste fiscal foi um dos fatores determinantes para que países que perderam o grau de investimento recentemente recuperassem o selo de bom pagador. O estudo, assinado pela economista Julia Gottlieb, analisou 13 economias rebaixadas na última década. Das seis que ganharam a chancela de volta, Coreia, Eslováquia e Romênia voltaram ao grupo de bons pagadores em três anos, enquanto Indonésia, Uruguai e Colômbia demoraram, em média, uma década. “O que é mais importante é ter o ajuste nas contas públicas, nas contas externas, e manter a inflação sob controle. Em outros episódios, isso ajudou. Essa é a lição que a gente tira”, explica Julia.

O problema é que há incertezas sobre a capacidade de o governo brasileiro fazer isso a curto prazo, principalmente diante das dificuldades políticas que vem enfrentando para aprovar as medidas do ajuste fiscal. “Se o governo conseguisse aprovar rapidamente todo o Orçamento, ele ganharia tempo. A questão é que isso é muito pouco provável. São tantos detalhes envolvidos, que é impossível que nenhum seja objeto de discussão acirrada. Infelizmente, quando a situação econômica depende da politica, o resultado é imprevisível”, afirma Lombardi, do Standard Chartered.

Efeito FED

A economia brasileira ainda vem amargando a alta da cotação do dólar. O fato de o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) ter mantido a taxa básica de juros dos Estados Unidos próxima de zero, na semana passada, adiou a temida fuga de dólares dos mercados emergentes. Com um juro maior nos EUA, os investidores internacionais devem retirar recursos de mercados de maior risco, preferindo a segurança dos títulos americanos. Mas esse alívio momentâneo – a expectativa é que o Fed aumente a taxa em dezembro – não foi o suficiente para contrabalançar a turbulência doméstica da crise política no Brasil.

José Júlio Senna, chefe do Centro de Estudos Monetários da Fundação Getulio Vargas (FGV), ressalta que, desde julho, as variáveis-chave do dólar estão associadas a fatores domésticos. Essa pressão interna já faz com que o real seja a moeda com maior desvalorização este ano frente ao dólar, de 33,31%, considerando as 32 principais divisas do mundo. “No caso de outros emergentes, o Fed será um fator prevalecente no câmbio. No Brasil, não. Isso mostra a relevância que as questões domésticas estão exercendo”, afirma Oliveira, do banco Fibra.

Fábio Silveira, diretor de pesquisas econômicas da GO Associados, vê no momento uma oportunidade para aproveitar o dólar alto e estimular exportações. “A única saída que eu vejo no plano macroeconômico é tentar acelerar a exportação aproveitando esse embalo no câmbio de R$ 4. Pode ser nosso grande sustentáculo em 2016”.

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