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Paranaense de Apucarana (Região Norte do Paraná), o executivo Antônio Maciel Neto ficou conhecido popularmente quando apareceu em comerciais de televisão da Ford para convidar os consumidores a fazer um test-drive em um dos carros. Na época, Maciel Neto presidia a montadora na América do Sul. No começo desse ano, deixou a empresa norte-americana para assumir a presidência da brasileira Suzano Papel e Celulose. Na nova agenda, planos ambiciosos de expansão: praticamente dobrar o tamanho da empresa nos próximos quatros.

O empresário esteve em Curitiba nesta semana para participar do projeto "Grandes empresários pensam o Brasil", promovido pelo Centro Universitário Positivo (Unicenp), em parceria com a Rede Paranaense de Comunicação (RPC). Em sua palestra, Maciel Neto apresentou o que chama de "novo ciclo de crescimento" da Suzano Papel e Celulose e conversou com a platéia sobre a situação econômica do país. Nesta entrevista, Maciel Neto fala dos planos da companhia, faz uma avaliação do primeiro mandato do governo Lula e aponta os caminhos que, segundo ele, precisam ser trilhados para que o Brasil volte a crescer com mais vigor.

Gazeta do Povo – O plano de expansão da Suzano prevê a ampliação da produção de celulose de mercado de 544 mil toneladas por ano para 1,7 milhão de toneladas até 2008. Que investimentos devem ser feitos para isso?

Antônio Maciel Neto – A Suzano está investindo pesadamente no Brasil. Estamos fazendo um empreendimento de US$ 1,3 bilhão em uma linha de produção em Mucuri, no Sul da Bahia, para produzir 1 milhão de toneladas de celulose, 100% para exportação. Também acabamos de adquirir 50% da Ripasa, em uma operação de mais de US$ 500 milhões [em parceria com a Votorantin Celulose e Papel]. Com isso, a produção de papel deve aumentar de 824 mil toneladas por ano para mais de 1 milhão de toneladas até 2007. O setor de papel e celulose é um dos poucos setores em que o Brasil, no curto prazo, pode ter a pretensão de ser o melhor do mundo.

Foi esse potencial que o levou senhor a trocar o setor automotivo pelo de papel e celulose?

Uma das coisas que me levou a assumir a Suzano foi a possibilidade de trabalhar em uma empresa brasileira, familiar, de capital aberto. Mas também, certamente, essa chance de atuar em um setor em que o Brasil tem grande capacidade de crescer.

O senhor já trabalhou no governo, em estatal e em multinacionais e agora assumiu uma empresa familiar, de capital aberto. Que experiência o senhor traz para esse novo desafio?

Estou há 25 anos trabalhando e estudando. Trabalhei na empresa estatal [Petrobrás], no governo, em empresas que têm dono e sete anos em uma grande corporação americana [Ford]. Eu acho que a empresa brasileira tem um potencial muito grande, um processo decisório muito rápido e muito dinamismo. Eu acho que posso ajudar nesse processo decisório, na formação de equipes e investimentos em tecnologia. Estou muito animado com essa nova jornada.E em relação ao Brasil, como o senhor avalia o primeiro mandato do governo Lula?

O governo Lula teve um papel muito importante, que foi o de não deixar a inflação crescer. A inflação é a aids da economia. A situação vergonhosa da distribuição de renda veio dela. O problema foi o tamanho da dose usada na política de juros.

Na sua opinião, o processo de redução dos juros foi muito lento?

Eu, particularmente, acho que a dose foi muito forte e conservadora. Não podemos descartar o resultado, mas acho que perdemos uma oportunidade de crescer porque, no cenário internacional, nunca houve quatro anos como esses que tivemos agora. Foi um céu de brigadeiro. A economia mundial cresceu entre 4,5% e 5%. Os países em desenvolvimento cresceram entre 8% e 9% e o Brasil, apenas 2%.

O presidente Lula disse recentemente que o país está pronto para dar o segundo passo, o passo do crescimento. O senhor concorda?

Não adianta ficar no desejo. O país não vai crescer enquanto não fizer o investimento voltar pra valer. E não há investimentos porque o risco é muito alto. O setor público é muito grande. De um orçamento brasileiro de quase R$ 500 bilhões, investe-se apenas R$ 8 bilhões. O setor privado brasileiro está preparado para investir, mas só quando houver um pouco mais de segurança. Para isso, precisa ter um equilíbrio maior das contas públicas e um ambiente propício.

As Parcerias Público-Privadas (PPPs) são um caminho?

A Parceria Público-Privada é uma excelente idéia. Só que o problema do investimento na infra-estrutura não é falta de recursos. Há muito dinheiro para investimentos vindos dos fundos de pensão do mundo inteiro e o Brasil tem projetos fenomenais. Mas não há marco regulatório. Precisamos ter agências reguladoras com estabilidade, com regras claras, com mandatos, para que se possa fazer isso.

Qual a sua expectativa de crescimento para 2007?

Se não acontecer nada no cenário externo, a economia brasileira pode crescer entre 3% e 4%. Infelizmente não vai ser mais do que isso. Se não tiver mais investimento, não tem mais produção.

O presidente Lula demonstrou interesse em convidar um empresário para compor o ministério na área econômica. O que o senhor acha disso?

Eu acho que é uma contribuição importante. Veja o papel que o ministro Furlan [do desenvolvimento] exerceu no governo. Foi um ministro espetacular, que ajudou muito o presidente com a disciplina e os processos de trabalho. O ministro Roberto Rodrigues, que também é empresário, fez um trabalho muito bom na agricultura. E eu acho muito interessante a posição do presidente Lula porque está todo mundo preocupado com o que vai ser o segundo mandato e ele está dando uma sinalização. É bastante claro que, ao convidar o Jorge Gerdau, ele está procurando gente para ajudar. Eu acho uma iniciativa excelente e gostaria muito que o Gerdau aceitasse.

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