A gestão da dívida é um dos temas preferidos dos partidos mais à esquerda no cenário político brasileiro e foi encampada como assunto prioritário por sindicatos e até pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Em 2000, a CNBB liderou a realização de um "plebiscito popular" sobre a dívida e colheu mais de 5 milhões de votos contra o pagamento dos contratos assinados com credores externos sem que fosse realizada uma auditoria nas contas.
Maria Lúcia Fattorelli, autora do livro "Auditoria da dívida externa: questão de soberania" e diretora do Unafisco, sindicato que representa os auditores fiscais da Receita Federal, é uma defensora convicta da revisão dos débitos brasileiros. Ela argumenta que o Brasil já pagou várias vezes os empréstimos tomados ao longo de quase dois séculos de independência. "As dívidas foram roladas muitas vezes, sempre com a aplicação de juros sobre juros", afirma Maria Lúcia. "Temos o direito de pedir a aplicação de taxas normais do mercado internacional e apenas pagar o que realmente foi contratado pelo governo brasileiro."
Maria Lúcia critica também as medidas recentes que mudaram o perfil da dívida. Segundo ela, o Banco Central erra ao trocar títulos antigos por papéis novos e com vencimento mais longo. "O governo está tornando a se endividar com títulos que não podem ser resgatados e que oscilam de acordo com os juros internacionais. Vejo um aumento do risco nessa operação, não uma redução como tem se falado", explica.
Nem mesmo a troca da dívida atrelada ao câmbio por outra corrigida pelos juros seria vantajosa para o país neste momento, na opinião da auditora. "O dinheiro só vem porque o ministro Palocci garante os juros mais altos do mundo. Isso será pago pelo contribuinte de qualquer maneira, não importa se em papéis cambiais ou não", diz. (GO)
Reforma tributária promete simplificar impostos, mas Congresso tem nós a desatar
Índia cresce mais que a China: será a nova locomotiva do mundo?
Lula quer resgatar velha Petrobras para tocar projetos de interesse do governo
O que esperar do futuro da Petrobras nas mãos da nova presidente; ouça o podcast
Deixe sua opinião