São Paulo - O Banco Central (BC) fez uma "aposta muito arriscada" ao reduzir os juros básicos na semana passada, pois se baseou numa piora drástica da economia internacional que ainda não ocorreu, ponderou o professor da PUC-RJ e economista da Opus Gestão de Recursos José Márcio Camargo, após ler a ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), divulgada na manhã de ontem.

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"A única hipótese que pode explicar a queda da Selic em 0,50 ponto porcentual foi que o presidente Alexandre Tombini voltou do encontro de Jackson Hole, nos EUA, com grande certeza de que o cenário global vai piorar muito, a ponto de gerar pressões deflacionárias mundiais", comentou. "Contudo, não é bom contar com algo que ainda não ocorreu. Teria sido mais adequado ter esperado a reunião do Copom de outubro para ter mais certeza sobre os desdobramentos da conjuntura internacional. Aí, se fosse o caso, o BC poderia baixar a Selic com maior segurança", acrescentou.

Inflação

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Para Camargo, na medida em que a recessão mundial ainda não está em curso, aumentam as dúvidas sobre o bom comportamento da inflação em 2012, o que é expressado pelo Banco Central e Ministério da Fazenda. Ao levar em consideração a estimativa do BC de que uma forte deterioração do nível de atividade global deve provocar um quarto dos efeitos negativos sobre o país em relação à crise de 2008 e 2009, como foi manifestado pelo parágrafo 18 da ata, ele pondera que a inflação poderia recuar meio ponto porcentual no curto prazo. Camargo chegou a este número ao avaliar que o IPCA caiu pouco mais de dois pontos porcentuais, dos 6,5% apurados no fim de 2008 (quando a crise anterior iniciou seu processo mais agudo) para os 4,31% registrados no fim de 2009. "Ou seja, seria o equivalente a dizer que a inflação atual de 7,23% ao ano, no acumulado em 12 meses em agosto, baixaria para 6,73%. Esse número, contudo, indica que o IPCA ainda está acima do teto da meta de 6,5%", disse.

Para Camargo, num mundo desaquecido, mas que não gera deflação, o Brasil tem tudo para manter um quadro inflacionário preocupante. Embora o nível de utilização da capacidade instalada das indústrias esteja em trajetória de redução, em boa parte motivada pelo ingresso de manufaturados importados, ele pondera que o IPCA está acima do teto da meta e reajustes reais obtidos por várias categorias profissionais disparam um sinal de alerta. "Isso é uma pressão forte sobre os preços. A pergunta que fica é: Quando o governo começará a ficar mais apreensivo com a inflação? O IPCA de junho e o de agosto apresentaram altas maiores do que o esperado, inclusive pelo BC. E isso poderá ocorrer também em setembro", destacou.