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Para economistas, rebaixamento pela Fitch reflete e aprofunda crise

A perda do grau de investimento pelo Brasil já era esperada e foi causada pelo ambiente político, que tem dificultado o ajuste da política fiscal, segundo avaliação do presidente do Itaú BBA, Cândido Bracher.

“Difícil ficar surpreso com essa notícia da Fitch. A gente pode atribuir esse movimento à incerteza política, que impede que a gente tenha uma clareza de perspectivas, de como vamos lidar com a política fiscal”, afirmou.

Ao perder grau de investimento por duas das três grandes agências de avaliação de risco — o país já tinha perdido o selo de bom pagador pela Standar & Poor’s —, o Brasil tende a ser menos atrativo para investidores estrangeiros nos mercados financeiros.

Bracher lembra que o Brasil já esteve nessa situação — o grau de investimento veio apenas em 2008 —, mas que agora o país tem uma melhor condição do lado externo, com baixa dívida e reservas internacionais de mais de US$ 390 bilhões.

“Mas, no passado, a crise externa dava uma urgência à resolução dos problemas, porque tinha o risco de moratória. Agora, não temos esse senso de urgência, então estamos demorando muito para superar essa dificuldade política”, explicou.

Reorganização

O economista-chefe da Gradual Investimentos, André Perfeito, avalia que o rebaixamento da nota de crédito brasileira pela segunda agência de classificação de risco, a Fitch, combinado com os rumores de mercado sobre uma possível saída do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, pressiona o Planalto e a classe política em geral a parar e reorganizar as bases da economia.

“Talvez agora o ajuste fiscal possa ser um pouco mais escalonado. Levy está sendo pressionado a fazer um ajuste fiscal de curto prazo, em meio a uma recessão profunda. Um ajuste de médio e longo prazo pertence agora à vontade dos políticos”, disse o economista.

Perfeito acredita que o país perderia o selo de bom pagador na Fitch de qualquer forma, com a permanência de Levy ou uma possível troca no ministério da Fazenda. O economista avalia que o rebaixamento não está ligado apenas à questão do superávit primário de 2016 (0,7% como queria Levy e entre zero e 0,5% como propôs o Planalto).

“O rebaixamento tem a ver com a trajetória de crescimento da dívida pública do país, que deve ultrapassar os 70% do PIB em breve. O Brasil pagou R$ 506 bilhões em juros nominais nos últimos 12 meses. Sem fazer o ajuste fiscal, a trajetória dessa dívida torna-se explosiva”, afirmou o economista, lembrando que a incerteza política torna ainda mais complicada a condução do ajuste.

Impasse político

Para o professor Luiz Carlos Prado, do Instituto de Economia da UFRJ, o rebaixamento da nota de crédito do Brasil pela Fitch, que tirou o grau de investimento do país, é reflexo do atual cenário de incertezas políticas e econômicas e contribuiu para aprofundar ainda mais a crise.

“Diante da atual situação é irrelevante dizer o que deve ser feito, com relação a políticas econômicas, pois o cenário não permite mudanças bruscas. O que precisa acontecer são as forças políticas da situação e da oposição acordarem pontos mínimos, sobre orçamento, gastos públicos e investimentos, para que em meio a crise se continue operando a economia brasileira. Essa paralisação na tomada de decisão aliada a um cenário econômico internacional adverso é que preocupa”, analisa o economista.

Prado classifica esse cenário de incertezas como “deprimente” para a percepção externa: “Quando você olha de fora, a percepção é que a crise está paralisando a capacidade de se fazer política econômica no Brasil.”

Para o economista, enquanto não houver um acordo entre situação e oposição, o campo econômico continuará “paralisado e com notícias ruins”: “Seria importante se o Congresso acordasse em torno de alguma agenda sob o ponto de vista econômico para que essa transição política, na qual não sabemos se este governo fica ou sai, seja menos custosa para a população. Mas de nenhum dos lados há uma proposta consistente para se enfrentar esse problema.”

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