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| Foto: DANIEL ROLAND/AFP

A desaceleração registrada pelo Brasil é maior que o esperado, afirmou a diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde, em um discurso na Alemanha nesta terça-feira (5), no qual ressaltou que os riscos para a economia mundial aumentaram em meio à expansão de vulnerabilidades nos países emergentes.

Lagarde ressaltou que os países emergentes formam um grupo muito diverso, mas no geral tem predominado a tendência de enfraquecimento da economia. A transição de modelo de crescimento da China é saudável e bem-vinda, mas o país terá que lidar com taxas menores de expansão.

Rússia e Brasil estão em recessão e o petróleo barato tem afetado as perspectivas de vários países, incluindo o Oriente Médio e a África. A principal exceção nesse quadro continua sendo a Índia. A expansão no país segue “forte” e a renda também tem crescido.

Lagarde não falou de projeções de crescimento nesta terça-feira. Os números serão divulgados na próxima semana, dia 12, quando começa a reunião de Primavera do FMI em Washington.

O Brasil pode ter as projeções rebaixadas mais uma vez, como vem acontecendo a cada novo relatório do FMI desde 2012. Na última atualização de estimativas do Fundo, divulgada em janeiro, a previsão era de que o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil fosse encolher 3,5% este ano e ficar estável em 2017.

Riscos

Entre os riscos que têm contribuído para elevar a vulnerabilidade nos países emergentes, Lagarde citou o aumento do endividamento de empresas, volatilidade maior nos fluxos internacionais de capital e, em alguns mercados, os bancos mais cautelosos em liberar crédito. Muitos destes riscos podem provocar contágios de um país para outro, ressaltou a dirigente.

Na segunda-feira, o FMI publicou um estudo em que mostra que as repercussões financeiras de eventos em países emergentes aumentaram nos últimos anos.

Economia mundial

De acordo com Lagarde, o crescimento da economia mundial teve enfraquecimento adicional nos últimos meses, enquanto os riscos de piora da atividade aumentaram. “A economia global enfrenta um tempo de crescente risco e incerteza”, afirmou.

No discurso na Alemanha, Lagarde cobra “ações decisivas” dos governos para restaurar a trajetória de crescimento das economias e pede maior cooperação internacional para combater não apenas a fraqueza econômica, mas também a corrupção e as mudanças climáticas. “Podemos fazer melhor, temos que fazer melhor, mas para isso as políticas precisam ir além”, disse a dirigente. “Estamos em alerta, não alarmados.”

A boa notícia, afirmou Lagarde, é que a recuperação da economia mundial continua. “Temos crescimento, não estamos em uma crise.” A notícia nem tão boa, disse ela, é que essa recuperação permanece “muito fraca, muito frágil, e os riscos para sua durabilidade estão aumentando”.

Os riscos de piora da economia permanecem e alguns aumentaram, disse a dirigente do FMI, citando vulnerabilidades em mercados emergentes, um legado da crise nos países desenvolvidos, com enfraquecimento do comércio mundial e aumento da volatilidade nos mercados e dos riscos para a estabilidade do sistema financeiro.

Para lidar com essa situação, Lagarde afirma que todos os países precisam de medidas contingenciais no caso do o cenário piorar. Além disso, são necessárias medidas estruturais, maior cooperação internacional e o uso de uma política fiscal “amigável ao crescimento”, onde possível. “Alguns países têm espaço para expansão fiscal e deveriam usá-lo”, disse ela, ressaltando que o mundo precisa também de estímulos monetários, mas eles sozinhos já não são mais suficientes.

Juros negativos

Lagarde disse que as taxas de juros negativos adotadas pelo Banco Central Europeu (BCE) e no Japão são bem-vindas, mas podem ter efeitos colaterais que precisam ser monitorados. “Enquanto a acomodação deve continuar na maioria das economias avançadas, é evidente que a política monetária não pode mais ser o alfa e ômega para a recuperação”, disse ela, mencionando a necessidade de suporte fiscal e de reformas estruturais.

A representante do FMI frisou ainda que o risco de a economia mundial ficar presa em um nível de crescimento definido por ela como “novo medíocre” aumentou. A esperada aceleração da expansão dos países desenvolvidos não ocorreu no ritmo previsto, ao mesmo tempo em que emergentes, com a China e Brasil, perderam fôlego.

Nos mercados desenvolvidos, os EUA estão sendo afetados pela valorização do dólar, que prejudica as exportações do país e as empresas multinacionais. A zona do euro tem registrado baixo investimento e, no Japão, tanto a expansão do PIB como a inflação estão abaixo do esperado.

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