Uma pequena deflação é tão aceitável quanto uma inflação baixa, disse um alto funcionário do Federal Reserve dos Estados Unidos, que tem discordado sistematicamente das políticas do Fed de crédito fácil, repetindo que mais flexibilização seria algo perigoso.
O presidente do Kansas City Federal Reserve, Thomas Hoenig, disse que o Fed não deve ter uma meta de inflação, mas que ele gostaria de ver uma taxa de inflação igual a zero.
Em entrevista neste sábado (30) ao diário suíço Neue Zuercher Zeitung, Hoenig afirmou que as perspectivas de inflação muito baixa, e a consequentes baixas taxas de juros nominais que dão ao banco central uma margem estreita para cortar taxas em um período de crise são equivocadas, uma vez que não oferecem tempo suficiente para que a política monetária surta efeito.
A entrevista com Hoenig, que utilizou todos os seis votos a que tinha direito em 2010 para ir contra a promessa do Fed de manter taxas "excepcionalmente baixas" por um "período prolongado," foi realizada em 26 de outubro - o mesmo dia em que Hoenig advertiu, em um discurso, que flexibilizar ainda mais poderia ser perigoso.
Espera-se que o Fed aprove uma nova rodada de "quantitative easing" - essencialmente imprimindo dinheiro ao comprar títulos - em sua próxima reunião política, que será realizada entre os dias 2 e 3 de novembro. Isso porque muitos diretores temem que a inflação baixa possa se transformar em deflação, o que tornaria mais difícil para empresas e famílias pagar suas dívidas - que já constitui um fardo sobre a economia dos EUA.
Sob o sistema do Fed de rotação de posições de voto para presidentes de bancos regionais, Hoenig tem um voto no comitê de mercado aberto de decisão política federal (FOMC) este ano, mas não em 2011.
"Um pouco de deflação não é pior do que um pouco de inflação," disse Hoenig na entrevista, publicada em alemão.
A situação não é comparável com a Grande Depressão, quando os preços caíram em 20 por cento, que foi tão ruim quanto aumentos de preços de 20 por cento, afirmou ele.
"Querer uma inflação mais elevada não é o mesmo que prevenir a deflação forte," disse Hoenig.
Um banco central deve visar ao longo do tempo manter os preços estáveis ou, no máximo, tolerar uma inflação muito baixa, e é perigoso argumentar que a política monetária possa reduzir o desemprego sem alimentar a inflação.
Hoenig comentou que a flexibilização recente conseguiu dar o pontapé inicial nos mercados financeiros, mas que os rendimentos estão caindo e, agora que a crise passou, o Fed deveria permitir que os mercados funcionem normalmente e reduzam sua carteira de títulos, permitindo que os títulos que adquiriu possam amadurecer.
Hoenig citou estimativas de que as taxas de longo prazo cairiam 25-30 pontos base se o Fed desse início a um novo ciclo de grande escala de flexibilização.