Apesar dos aumentos sucessivos na população ocupada, o Brasil ainda está longe da condição de "pleno emprego", afirmam técnicos do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). No estudo "Considerações sobre o Pleno Emprego no Brasil", divulgado ontem, eles apontam que o alto nível de informalidade, as taxas ocultas de desemprego (pessoas que estão subempregadas ou pararam de buscar trabalho) e o porcentual de 70% de novas vagas com remuneração de até dois salários mínimos comprovam que o país não alcançou a situação em que haveria vagas disponíveis, com remunerações adequadas, para toda a população economicamente ativa disposta a trabalhar.
Os pesquisadores dizem que não é possível determinar com precisão uma taxa que represente esta condição porque ela está ligada a indicadores de qualidade dos empregos. "É um conceito absolutamente vago, frágil, que vem sendo empregado sem muito rigor na fala de muitos economistas", diz o coordenador do Grupo de Análises e Previsões (GAP) do Ipea, Roberto Messenberg.
André Calixtre, assessor técnico da presidência do Ipea, destacou que, ao contrário do que afirmam alguns analistas, o crescimento do mercado de trabalho está acompanhando o desenvolvimento da economia e não impedindo o seu avanço. "Não sabemos o que é o pleno emprego, mas sabemos o que ele não é. Ele não pode estar atrelado a ciclos econômicos. Se o dinamismo da economia diminuir, acabou o avanço do mercado de trabalho", exemplifica.
Calixtre ressaltou ainda que os empregos têm crescido de maneira diferente em relação ao passado, com aumento da formalização e da massa salarial real. As vagas formais aumentaram 16,7% entre 2007 e 2010, segundo o IBGE, e 17,2% pelos dados do Ministério do Trabalho. A massa salarial real, por sua vez, passou de R$ 25,5 bilhões em maio de 2005 para R$ 38 bilhões em outubro de 2011.
A existência de "gargalos setoriais" não significa que o mercado de trabalho inteiro esteja se aproximando do patamar ideal de emprego, explica a técnica de Planejamento da Diretoria de Estudos e Políticas Macroeconômicas do instituto, Maria Andreia Lameiras. "Algumas cidades ou atividades podem ter dificuldades de encontrar mão de obra. Temos visto isso ocorrer nos setores que têm criado mais vagas, como a construção civil, serviços e a indústria naval. Mas isso de forma alguma é um processo generalizado", afirma.