O ministro da Fazenda, Guido Mantega, rebateu a afirmação da diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde, de que os emergentes devem ajustar suas moedas se necessário ou aceitar a evolução do câmbio. "Acho um equívoco. O Brasil é dos países que mais sofrem com a valorização do câmbio. Não estou falando apenas de recentemente, mas estou falando dos últimos anos. Nossa indústria tem perdido competitividade, em grande parte, por causa da desvalorização das moedas dos outros países", criticou Mantega, em entrevista concedida nesta quinta-feira (19) após a reunião com os demais países do Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), na sede do FMI, em Washington.
Mantega disse que o Brasil está provando na prática a eficácia das intervenções no câmbio, uma vez que outros países estão usando a estratégia de desvalorização de suas moedas. "Com intervenções, podemos diminuir essa desvantagem que nossa indústria tem tido a partir do cambio valorizado."
De acordo com o ministro, o Brasil sempre esclareceu sua posição em relação à desvalorização das moedas de alguns países, que gera forte fluxo de entrada de capital em países emergentes como o Brasil. "A cada reunião que nós fazemos há uma tentativa de cercear esses movimentos de intervenção no câmbio, mas a maioria sempre acaba decidindo que está correta", afirmou. "No nosso caso, a intervenção no câmbio é absolutamente necessária e nós vamos continuar fazendo", acrescentou.
Ao ser questionado se o Brasil não deveria também avançar em reformas estruturais para aumentar a competitividade da indústria, Mantega declarou: "O Brasil nunca parou de fazer reformas. A cada mês temos uma reforma". O ministro lembrou que a última foi a criação do Fundo de Previdência Complementar para os servidores públicos. "Isso é uma grande reforma que vai dar sustentabilidade à Previdência. A desoneração da folha (de pagamentos da indústria) também é uma grande reforma."
Segundo Mantega, além das reformas, o Brasil está conseguindo reduzir os juros - e não somente a Selic, mas as taxas em toda a economia, incluindo os spreads (diferença entre a taxa de captação dos bancos e o que é efetivamente cobrado do cliente final). "Estamos num bom caminho, com a reação muito positiva do setor financeiro a essa demanda que foi feita para redução dos spreads e aumento do crédito", completou.