O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, fez um alerta nesta segunda-feira (1º) contra os perigos de um excesso de otimismo do mercado neste momento em que a crise financeira mundial ainda não está totalmente superada. "O mercado internacional corre o risco de estar um pouco eufórico demais com o Brasil", afirmou, em palestra para cerca de 300 empresários na sede da Federação das Associações Comerciais e de Serviços do Rio Grande do Sul (Federasul) em Porto Alegre.
Segundo Meirelles, embora o Brasil esteja bem nos fundamentos econômicos e vá sair fortalecido da crise, assim como a China, ainda surgirão turbulências pela frente. "Números negativos ainda virão", previu, referindo-se ao PIB do primeiro trimestre, que será divulgado neste mês, quando já há sinais de recuperação da economia. "Isso vai criar oscilações de humor no mercado", previu.
Apesar da precaução, Meirelles demonstrou satisfação com o recente fluxo de dólares para o País. "De um lado é bom, o investimento estrangeiro direto está entrando, as empresas estão captando e começam a ter oportunidade de lançamento de ações". Destacou, ainda, que "a entrada de capitais recentes do País é para investimentos fixos".
Ao explicar suas posições, o presidente do Banco Central buscou mostrar-se realista. Chegou a lembrar que em janeiro não era otimista demais por lembrar que o País tinha fundamentos para superar a crise, então no auge, assim como agora não é pessimista por falar em cautela.
Meirelles também sustentou que "é de bom-tom" para qualquer banco central ser considerado conservador. Não aceitou, no entanto, acusações de que a instituição brasileira seria "excessivamente" conservadora. Para comprovar, destacou que desde janeiro de 2004 a inflação só foi para o piso da meta num período de 2007, enquanto no restante do tempo ficou orbitando próxima do centro da meta.
Para Meirelles, a crise financeira internacional encontrou no Brasil resistência maior do que em muitos outros países por onde ela passou. O presidente do Banco Central reconheceu que o cenário anterior à crise era benéfico ao País, mas destacou que o Brasil estava fortalecido pela prática dos fundamentos. Como dados positivos, citou o controle da inflação, as normas rigorosas para o setor bancário, a disponibilidade de reservas internacionais de US$ 205,1 bilhões em agosto do ano passado e a volta ao mesmo volume em maio deste ano.