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Para o mercado não é cedo para apostar em Bolsonaro: Bolsa tem maior giro do ano

Dólar fechou a R$ 3,896 com a aposta do mercado em Bolsonaro. | Marcelo Andrade/Gazeta do Povo
Dólar fechou a R$ 3,896 com a aposta do mercado em Bolsonaro. (Foto: Marcelo Andrade/Gazeta do Povo)

Ao longo desta semana, o mercado financeiro brasileiro tem respondido positivamente ao avanço de Jair Bolsonaro (PSL) nas pesquisas eleitorais. É uma aposta em um candidato que analistas e investidores escolheram ver como reformista e liberal, muito em razão de seu economista, Paulo Guedes, que tem uma agenda à direita para o país. Ainda nesta quarta-feira (3), a Bolsa teve o maior giro do ano, com alta de 2,04%, a 83.273 pontos, e o dólar caiu mais 1%, para R$ 3,896.

Entre os analistas brasileiros, o cenário desenhado para o segundo turno, com vantagem para Bolsonaro, é dado como certo e já há quem trabalhe com a possibilidade do candidato do PSL sair vencedor ainda no primeiro turno. O boletim do Itaú BBA sobre a América Latina, por exemplo, reforçou que, desde 1989, os cenários de segundo turno apontados por pesquisas eleitorais feitas no período de dois meses antes do pleito costumam acertar.

“O sentimento anti-PT no mercado é muito forte e há uma certa expectativa de que as pesquisas acabem refletindo isso, como está acontecendo”, comenta a economista da corretora Spinelli, Camila de Caso. Isso ficou bastante claro, segundo ela, na terça (2), quando as bolsas europeias, por exemplo, fecharam em queda em razão a receios de déficit fiscal na Itália, e a Bolsa brasileira fechou em alta de 3,98%, a 81.593 pontos, a maior em dois anos.

Camila admite que o mercado vem discutindo muito pouco o Legislativo, que é quem, efetivamente, aprovará qualquer reforma proposta por Guedes. Por outro lado, diante de uma tendência de pouca renovação no Congresso, a sinalização recente da banca ruralista a Bolsonaro ou mesmo o apoio de figuras como Edir Macedo, com influência na bancada evangélica, já justificariam o entusiasmo dos analistas com o candidato.

Ainda nesta quarta-feira (3), a XP Investimentos divulgou uma sondagem com 187 investidores institucionais que mostra que o futuro com Bolsonaro já está, inclusive, precificado.

Embora Geraldo Alckmin (PSDB) seja o candidato com o qual o dólar cairia mais, para R$ 3,69, e a Bolsa subiria também mais (para 95 mil pontos), o cenário com o candidato do PSL é o segundo melhor: dólar a R$ 3,84 e Ibovespa a 88 mil pontos. O pior cenário sondado pela XP é o de Ciro Gomes (PDT), em que o dólar aparece a R$ 4,52. Com Fernando Haddad (PT), a moeda iria para R$ 4,45. As informações foram divulgadas pelo site especializado Infomoney.

Cautela para não confundir investimentos com torcida

Ler as pesquisas e mudar posições na carteira em razão disso, porém, é uma coisa. Confundir investimentos com torcida é outra. Camila alerta os pequenos e médios investidores que a hora para eles agora é de cautela. “ Quando sair o dado é melhor esperar esfriar um pouco. É o que a gente também tem sugerido aqui [na corretora]”.

Nesta quarta (3), em específico, o entusiamos se deu em razão da divulgação do novo Datafolha *, que mostrou Bolsonaro com 32% das intenções de voto, alta de 4 pontos percentuais na comparação com a pesquisa divulgada na sexta-feira passada (28)**. A disparada ocorreu após semanas de estagnação e em um momento em que o capitão reformado vinha sofrendo com reportagens negativas na imprensa e protestos nas ruas. Fernando Haddad (PT), por outro lado, estagnou nas intenções de voto e viu sua rejeição disparar.

Ainda na segunda (1.º), a agência de classificação de risco Standard&Poor’s disse que Bolsonaro representava um risco maior à agenda econômica do mercado do que Haddad. Semanas antes, a revista The Economist, conhecida por seu viés liberal, também apontou riscos sobre uma eventual presidência de Bolsonaro.

“O mercado interno torceu nariz [para a Economist e a S&P]. A reação é de que esses caras não conhecem o Brasil”, diz Victor Candido, economista-chefe da Guide Investimentos.

“Não importa muito se ele [Bolsonaro] é ou não reformista, se ele se rendeu ou não ao liberalismo. É percebido com reformista -isso combinado à narrativa de que não há espaço para o PT”, diz Felipe Miranda, economista e estrategista-chefe da Empiricus.

Para Miranda, até então os preços dos ativos não embutiam nenhuma probabilidade de vitória no primeiro turno, o que também ajuda a explicar a queda do dólar e a disparada da Bolsa “Quanto é essa probabilidade? 5%? 10%? Preciso colocar essa probabilidade nos preços, ela existe”, diz.

*A última pesquisa do Datafolha foi realizada com 3.240 eleitores em 225 municípios brasileiros nesta terça (2). A margem de erro é de 2 pontos percentuais, para mais ou para menos. O nível de confiança é de 95%. O levantamento foi registrado no Tribunal Superior Eleitoral com o número BR-03147/2018.

**Pesquisa realizada pelo Datafolha de 26/set a 28/set/2018 com 9.072 entrevistados (Brasil). Contratada por: EMPRESA FOLHA DA MANHA e REDE GLOBO. Registro no TSE: BR-08687/2018. Margem de erro: 2 pontos percentuais. Confiança: 95%. *Não sabe / Não respondeu.

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