Quarenta e dois dias após o leilão da hidrelétrica de Baixo Iguaçu, o governador Roberto Requião disse ontem que a licença ambiental prévia concedida à usina pelo próprio governo estadual é "irregular" e será cassada. A declaração, feita durante a reunião semanal do secretariado, representa uma mudança radical de postura.
Até pouco tempo atrás, o governo defendia enfaticamente a decisão do Instituto Ambiental do Paraná (IAP) de liberar a licença, apesar de o corpo técnico do órgão estadual ter apontado problemas ambientais no projeto. Mas a derrota das estatais Copel (estadual) e Eletrosul (federal) no leilão de concessão, em 30 de setembro, mudou os ânimos no Palácio das Araucárias principalmente porque um grupo privado, o Neoenergia, arrematou o direito de construir e operar a usina, planejada para o Sudoeste paranaense.
"Vamos fazer tudo para que o estado do Paraná construa essa usina. A licença prévia não é regular e nós estamos tratando de cassá-la", disse Requião, sem mencionar qual seria a irregularidade. O governador, que já havia culpado a parceira Eletrosul pela derrota no certame, passou a criticar também o Banco do Brasil (BB) e seu fundo de pensão, a Previ, que são sócios da Neoenergia, ao lado do grupo espanhol Iberdrola.
"Sinceramente, não esperava essa patifaria da direção do banco e da Previ em relação à concorrência de Baixo Iguaçu. Não podem brincar com o interesse do povo do Paraná, se associando a um grupo espanhol e tirando da Copel uma usina fundamental para sua consolidação", disse Requião, afirmando que o governo privilegiou o BB quando repassou ao banco as contas do funcionalismo.
Responsável pela licença prévia supostamente irregular, o presidente do IAP, Vitor Hugo Burko, disse à Gazeta do Povo que ainda não conversou com o governador. "Precisamos ver como daremos andamento a esse assunto. A licença prévia está mantida por enquanto, mas a continuidade do processo licenciamento está suspensa desde que o Instituto Chico Mendes [responsável pelo Parque Nacional do Iguaçu] retirou a autorização que havia dado ao empreendimento." (FJ)