O Paraná decidiu ampliar a pressão pela reabertura dos mercados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul às carnes bovina e suína, que enfrentam restrições há 14 meses, por causa da suspeita de aftosa no gado paranaense. Duas reuniões ocorrem na semana que vem, uma em Florianópolis, na terça-feira, e outra em Porto Alegre, na quarta. Elas foram marcadas, a pedido do Paraná, pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), que vai intermediar as discussões. O estado alega que seu rebanho é saudável enquanto seus vizinhos dizem que precisam manter as proteções sanitárias.
"Vamos esgotar as vias administrativa, técnica e diplomática (...) As restrições não têm mais fundamento", disse ontem o secretário de Agricultura e Abastecimento do Paraná, Newton Pohl Ribas. Ele considera que até agora não há prova de que a doença tenha afetado o gado do Paraná e que a Instrução Normativa 61, lançada pelo Mapa em novembro, determina o fim das restrições embasadas na suspeita de aftosa. O secretário adiantou que, se Florianópolis e Porto Alegre não recuarem, o Paraná adotará a reciprocidade, com restrições à passagem de produtos catarinenses e gaúchos pelo estado.
Houve reação ontem também por parte do Sindicato das Indústrias de Carnes e Derivados (Sindicarnes) do Paraná. O presidente da instituição, Péricles Salazar, disse em entrevista coletiva que o estado não está parado diante das restrições dos estados vizinhos. "Estamos negociando, com apoio do governo do Paraná, desde outubro. Mas, até agora, nada." Salazar avalia que, impor restrições a Santa Catarina e Rio Grande do Sul, neste momento, prolongaria a crise do setor. Porém, declarou que apóia a reciprocidade caso as reuniões da próxima semana não sejam produtivas.
Segundo o Sindicarnes, o Paraná poderia estar vendendo R$ 16,5 milhões a mais em carnes aos vizinhos do Sul por mês, mas só arrecada cerca de R$ 5 milhões na região. Em Santa Catarina, entra apenas carne sem osso para alguns tipos de processamento. No Rio Grande do Sul, nem desossada, conta Salazar.
Os dados do Sindicarnes mostram que os criadores de bovinos do Paraná deixam de vender 2 mil toneladas (5% do volume distribuído ou o equivalente a R$ 6 milhões) para Santa Catarina e 300 toneladas (1% ou R$ 500 mil) para o Rio Grande do Sul ao mês. Em relação à carne suína, as perdas são ainda maiores. Correspondem a 3 mil toneladas (9,3% ou R$ 9 milhões) que não entram no mercado catarinense e a 165 toneladas (1,3% ou R$ 670 mil), no gaúcho, mensalmente.
A transição no Executivo pós-eleições prolongou as negociações pela reabertura dos mercados. Em Santa Catarina, o novo secretário da Agricultura, Antônio Ceron, assumiu fazendo cobranças. Ele pede ao Mapa providências para a reabertura do mercado russo à carne suína catarinense. No Rio Grande do Sul, João Carlos Machado deve assumir na próxima semana. Os secretários da última gestão diziam que não podiam suspender restrições ao Paraná em plena mudança de governo.
O Paraná não tem o mesmo status sanitário que Rio Grande do Sul e Santa Catarina em relação à aftosa. O estado tenta recuperar seu certificado de área livre da doença com vacinação, já obtido pelo Rio Grande do Sul. Santa Catarina busca o status de área livre da aftosa sem vacinação.