A forte expansão do consumo brasileiro deu estímulo extra para que grandes redes varejistas e industriais expandissem sua atuação para além do eixo Rio-São Paulo. E, nesse movimento de descentralização, muitas delas optaram por terceirizar as operações de logística, a fim de reduzir os gastos com a distribuição de produtos longe de suas sedes. As regiões Nordeste e Sul são as principais beneficiadas pela tendência e, nesta última, Curitiba e seu entorno aparecem com um grande potencial de atração de investimentos, até pela maior proximidade dos grandes centros do Sudeste. Mas, ao mesmo tempo, algumas peculiaridades do Paraná como o perfil mais "agrícola" do Porto de Paranaguá podem ser barreiras à atração de empresas com foco em comércio exterior.
No mês passado, o grupo Capital Realty anunciou a construção do primeiro condomínio logístico do Paraná, em Campina Grande do Sul (região metropolitana de Curitiba), com previsão de entrega no primeiro semestre de 2012. Paranaense, a Capital Realty existe há 12 anos e já opera centros logísticos em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul. "Temos outros armazéns na região de Curitiba, mas nenhum está dentro de um condomínio. O local para a construção de um grande empreendimento tem de estar bem localizado, e nesse caso o centro ficará na BR-116, principal ligação do Sul com São Paulo. As empresas podem deixar seus produtos no local e podemos distribuir para o mercado paranaense, por estarmos perto de Curitiba e dos principais acessos para o interior", salienta o diretor da empresa, Rodrigo Demeterco.
O Mega Centro Curitiba, como será chamado, terá entre 120 mil e 130 mil metros quadrados. O valor do investimento não é revelado. Entretanto, apenas na ampliação do centro de Itajaí (SC), o grupo gastou R$ 40 milhões, aumentando a área construída de 18 mil metros quadrados para 29 mil metros quadrados. O custo por metro quadrado, portanto, ficou em cerca de R$ 3,6 mil se repetido no condomínio de Campina Grande do Sul, o investimento total pode passar de R$ 400 milhões.
A família Demeterco é a fundadora da rede de supermercados Mercadorama, que nos anos 1990 foi vendida para o grupo português Sonae e, há alguns anos, comprada pelo Walmart. "Nossa origem é no varejo. Isso contribuiu para a gente compreender o mercado de distribuição", afirma Demeterco.
Facilidades
José Vicente Bandeira de Mello Cordeiro, sócio da Brain Consultoria e coordenador do curso de pós-graduação em Logística Empresarial do FAE Centro Universitário, explica que a terceirização dos centros logísticos é uma tendência para as empresas que querem estar mais próximas do mercado consumidor.
"A empresa leva os produtos para os centros de distribuição e de lá veículos menores fazem a capilarização da carga fracionada. As principais vantagens são delegar a atividade a um especialista e a redução do custo, que é menor por causa da maior capacidade das transportadoras", afirma Cordeiro.
Segundo o consultor, a região metropolitana de Curitiba tem vantagens para atrair esse tipo de empreendimento, por ser cortada por várias rodovias. "Os centros de distribuição não necessariamente precisam ficar nas rodovias, mas muito próximos delas e com fácil acesso ao centro. Aqui, temos toda a região dos contornos da cidade, além da Cidade Industrial e as proximidades da BR-376. As empresas precisam estar perto das entradas e saídas da cidade."
Entraves
Apesar dos novos investimentos, como o da Capital Realty, eles ainda são tímidos na região de Curitiba, quando comparados com os outros estados da Região Sul. De acordo com Cordeiro, os portos de Santa Catarina têm um perfil mais voltado a esse tipo de negócio do que o Porto de Paranaguá.
"Há uma tendência recente de instalar estes estabelecimentos com vistas à importação e exportação. Mas as plataformas na Grande Curitiba não estão se efetivando. O foco agrícola do Porto de Paranaguá de certa forma complica a situação, já que os portos de Santa Catarina, como Itajaí e Navegantes, passam por um processo de modernização mais rápido do que o nosso. A administração mais moderna dos portos catarinenses favorece nossos vizinhos", analisa.
A Região Sul detém 15% dos centros logísticos do país, atrás apenas do Sudeste, onde estão 60% de todos os empreendimentos do setor.