O Paraná exportou US$ 198 milhões em veículos e peças automotivas no mês passado, a maior cifra desde outubro de 2008. Os embarques de cereais (milho, principalmente), que somaram US$ 91 milhões, atingiram o patamar mais alto desde maio daquele ano. E as exportações de açúcar, de US$ 149 milhões em novembro, alcançaram o maior valor mensal em pelo menos uma década. Graças a marcas como essas, as vendas externas do estado atingiram no mês a marca de US$ 1,174 bilhão, um recorde para meses de novembro.
Nem isso, no entanto, foi suficiente para evitar que a balança paranaense amargasse seu terceiro déficit mensal consecutivo. Porque, assim como as exportações, as compras de importados também alcançaram o maior nível já registrado nessa época do ano: US$ 1,382 bilhão, segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC). A diferença entre vendas e compras resultou num saldo negativo de US$ 208 milhões, quase o mesmo valor do mês anterior (US$ 210 milhões). Com o novo déficit, o saldo acumulado de janeiro a novembro encolheu para US$ 344 milhões, o mais baixo para o período desde 2001.
Os números do MDIC mostram que, embora a demanda externa venha dando sinais mais firmes de recuperação, o apetite por importados é ainda mais forte. É ele que faz com que, passado o período março-agosto, em que se concentram as exportações de soja, a balança do estado entre no vermelho. Foi o que ocorreu nos três últimos meses de 2008 e nos quatro últimos de 2009, e assim tem sido desde setembro passado.
Há boas chances de que os déficits persistam pelos próximos dois ou três meses, até que comecem os embarques da nova safra de soja. O grão retomou, no ano passado, a liderança no ranking de produtos exportados, que pertenceu ao grupo de veículos e peças por quatro anos consecutivos.
Demanda industrial
Ao menos dois fatores dificultam a ampliação do saldo comercial. Um deles está nos incentivos fiscais que o governo estadual concede à importação que são alvo de uma ação direta de inconstitucionalidade a ser julgada pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Graças a esse estímulo, a importação de ferro e aço, por exemplo, subiu quase 70% em apenas dois anos. O segundo fator está na própria indústria, que tem no real valorizado um adversário para vender ao exterior mas um aliado na hora de importar.
Muitos dos setores que vêm empurrando para cima as exportações também são, ou passaram a ser nos últimos anos, grandes importadores. O polo automotivo virou deficitário em 2008. Suas vendas neste ano, acumuladas em US$ 1,7 bilhão, vêm se aproximando dos níveis de dois anos atrás; as importações, porém, já estão próximas de US$ 2,2 bilhões, o que gera um saldo negativo de quase US$ 500 milhões.
Algo semelhante ocorre com a categoria de equipamentos mecânicos, formada por uma extensa gama de mercadorias entre elas bombas para motores diesel, equipamentos para a exploração de petróleo, colheitadeiras e refrigeradores. O grupo exportou US$ 852 milhões e importou quase US$ 2,2 bilhões de janeiro a novembro. Nos itens importados, há componentes que vão equipar máquinas fabricadas no estado, mas também produtos acabados, como aparelhos de ar condicionado.
No total, a participação dos chamados bens de consumo mercadorias prontas para serem vendidas ao consumidor final ficou estável em 2010, na comparação com 2009, com 19% das importações totais. A fatia dos bens intermediários (matérias-primas) recuou de 45,4% para 42,4%, ao passo que a participação relativa dos bens de capital (máquinas e equipamentos para a indústria e transportes) subiu de 23,6% para 26,2% no período.