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Crises

No país natal, insegurança energética e econômica

A intenção das empresas japonesas de procurarem outras nações para seus investimentos tem entre as principais motivações as dificuldades que o país asiático enfrenta, com incertezas econômicas e ainda a insegurança no suprimento de energia às unidades industriais. Se a economia nacional já não mostrava todo o seu vigor desde a década de 1990, os problemas estruturais gerados pelo terremoto que atingiu o país em março do ano passado deixaram a situação pior.

Falhas

Por mais que boa parte dos locais atingidos pelo terremoto já tenham sido reconstruídos, as falhas se mantêm, principalmente no abastecimento energético, setor que carrega a principal preocupação das empresas. Com o acidente causado pelos tremores de terra na usina nuclear de Fukushima e os consequentes protestos à sua matriz energética, o governo japonês interrompeu a produção de algumas outras usinas do gênero, que correspondem a 30% da energia gerada no país.

Nos indicadores econômicos, a situação não se mostra melhor: em 2011, o país teve seu primeiro déficit comercial em 31 anos. "As empresas estão inseguras quanto à situação japonesa e isso motiva a procura por novos locais, gerando essa expatriação dos investimentos. Como destinos, as economias emergentes ganham vez, como é o caso dos países do Bric [Brasil, Índia, Russa e China] como aposta", afirma Heberthy Daijó, diretor da Japancham.

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Baroli, gerente de vendas e marketing: produção em três estágios
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Empresas japonesas estão novamente de olho no Paraná, planejando trazer investimentos e fábricas ao estado. Com as dificuldades que o país enfrenta desde o terremoto de 2011, suas empresas têm buscado levar operações para outras nações. Desde então os investimentos vindos do Japão ao Brasil aumentaram – e o Paraná é um dos beneficiados, por sua localização e por questões culturais.

Em todo o país, o movimento foi forte já no ano passado, quando o Japão respondeu por 10,8% do investimento estrangeiro direto (IED) no Brasil. Foram US$ 7,5 bilhões aplicados no país, quase o triplo do que os japoneses haviam aportado em 2010, quadro que remonta às décadas de 1970 e 1980, quando muitos de seus executivos vinham ao país, interessados na produção de matérias-primas.

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Mesmo sendo difícil bater os números daquela época, quando os investimentos japoneses chegavam a até 20% do IED, a expectativa é positiva, e reforçada por anúncios recentes de empresas nipônicas. A Nissan – que tem unidade em São José dos Pinhais, na Região Metropolitana de Curitiba (RMC) – quer ser a principal marca asiática de carros no Brasil, o quarto mercado automotivo do mundo, e vai gastar US$ 1,5 bilhão numa fábrica em Resende (RJ), enquanto a Panasonic investe US$ 200 milhões em Extrema (MG).

No Paraná, a Sumitomo Rub­­­ber, fabricante de pneus que detém as marcas Dunlop e Falken, iniciou em janeiro as obras de sua fábrica em Fazenda Rio Grande, na RMC. Na mesma cidade, a Hamaya mantém desde o fim de 2011 uma pequena operação de reciclagem de eletrônicos.

A Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep) conduz tratativas para a vinda de uma indústria de equipamentos hospitalares ao estado. E a Câmara de Comércio e Indústria Brasil-Japão no Paraná (Japancham) aponta o setor de energias alternativas como grande interessado em investir nas cidades paranaenses.

Enquanto a força do Brasil se dá pela liderança na América do Sul, o Paraná se destaca por ser o segundo estado no número de descendentes japoneses. São aproximadamente 150 mil nikkeis, menos apenas que em São Paulo. Algu­­mas das grandes empresas do país instaladas no Brasil mantêm suas sedes no Paraná há anos, caso de Nissan, Furukawa, Denso, Jtekt e Café Iguaçu, entre outras.

"Estar próximo de conterrâneos, assim como de companhias já instaladas, agências de fomento e câmaras comerciais ligadas ao país, é muito importante para os japoneses", diz Heberthy Daijó, diretor da Japancham. "Eles sabem o nível de exigência que sua cultura possui e com a proximidade ficam mais confiantes, seguros."

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Outros aspectos favorecem o Paraná, como a vizinhança com países do Mercosul e a proximidade de três dos principais portos do país (Santos, Paranaguá e Navegantes) e do mercado consumidor do Sudeste.

Sumitomo quer 10% das vendas logo no 1.º ano

A obra das futuras instalações da fabricante japonesa de pneus Sumitomo em Fazenda Rio Grande começou há poucas semanas. A marca tem objetivos bastante ambiciosos – entre eles, deter 10% das vendas do mercado nacional apenas um ano após a entrada em funcionamento da fábrica, e ainda triplicar a produção de pneus até 2020.

A empresa prevê que a fábrica comece a produzir comercialmente os pneus das marcas Dun­­lop e Falken em outubro de 2013. No início da atividade, a linha dará conta de colocar diariamente 15 mil pneus no mercado.

De acordo com o gerente de vendas e marketing da Sumito­mo, Renato Baroli, o número deverá ser ampliado tão logo as metas de participação de mercado sejam atingidas. "Temos mais dois estágios para a produção. O primeiro diz respeito a dobrar o número dos 15 mil pneus assim que a gente alcançar o pico da produção e de suas vendas. O outro estágio deve triplicar o número inicial, chegando a 45 mil unidades, assim que mais um pico for atingido. É possível que isso ocorra até 2020", diz.

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Em junho, a Sumitomo Brasil já começa a vender produtos importados da marca, preparando o terreno para o momento em que a fábrica brasileira puder suprir suas vendas. "Neste primeiro momento o que queremos é apresentar o nosso produto e diferenciá-lo. Muitos importadores individuais estão tentando vender seus pneus no Brasil, a maioria deles chineses, sem agregar nenhum valor ao produto. Nós queremos destacar a marca que a Dunlop e a Falken têm frente a esses produtos independentes", diz Baroli.

Para isso, a Sumitomo vai trabalhar com 13 distribuidores preferenciais que vão cobrir todo o país. Parte do esforço de marca – principalmente o primeiro contato e a fidelização dos consumidores finais – ficará a cargo desses revendedores. A empresa pretende ainda regionalizar parte das ações de mídia e marketing, estratégia que será apoiada por equipes internas e externas, além de consultores comerciais.

No momento, as operações da marca ainda estão centralizadas em São Paulo, onde alguns japoneses trabalham nos bastidores das atividades. Perto do início da produção, a sede da empresa será transferida para o Paraná, mas a divisão de marketing e vendas, comandada por Baroli, deverá se manter em São Paulo.