ESFORÇO
Reabertura do mercado russo exigiu quatro anos de negociações
A reabertura do mercado russo à carne bovina paranaense é resultado de um esforço de toda a cadeia produtiva nos últimos quatro anos. A mobilização se intensificou após a revelação do caso da vaca morta em dezembro de 2010 em Sertanópolis (Norte do Paraná) portando o agente causador da doença da "vaca louca". O caso veio à tona no fim de 2012 e resultou em vários embargos à carne brasileira.
Em setembro de 2013 a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec) se uniu à Associação Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora de Carne Suína (Abipecs) e abriu diálogo com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento para formular estratégias e acabar com os embargos.
Na mesma época, o Paraná enviou a Moscou uma comitiva com membros da Agência de Defesa Agropecuária (Adapar), Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo) e Secretaria Estadual da Agricultura e do Abastecimento (Seab).
"Neste encontro o chefe do serviço sanitário russo pediu que indicássemos plantas aptas a exportar", lembra Inácio Kroetz, presidente da Adapar. "Até então nenhuma empresa estava buscando esse mercado."
Estado está perto de retomar os negócios com o Irã
Sexto maior comprador da carne bovina brasileira em 2013, o Irã está próximo de retomar os negócios com o Paraná.
De acordo com o diretor-presidente da Agência de Defesa Agropecuária do Paraná (Adapar), Inácio Kroetz, o serviço sanitário do país já veio ao estado para fazer uma avaliação dos frigoríficos e sinalizou positivamente quanto à liberação das importações.
As duas empresas que receberam autorização da Rússia para venda da carne também planejam fechar negócio com o país do Oriente Médio. O frigorífico Astra busca ainda estreitar o comércio com Israel, segundo Jeremias Silva Júnior, diretor da empresa.
Volumes
Conforme dados da Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo), em 2013 o Irã comprou 58,9 mil toneladas de carne brasileira, pagando US$ 266,3 milhões, o equivalente a 4% das exportações totais do setor.
Estagnadas há mais de cinco anos, as vendas externas de carne bovina do Paraná devem dobrar em 2014. A expectativa está sustentada na reabertura do mercado russo segundo maior comprador da proteína brasileira para dois frigoríficos instalados no estado.
INFOGRÁFICO: Veja o espaço paranaense nas exportações
O Serviço Federal de Vigilância Sanitária e Fitossanitária do país (Rosselkhoznadzor) reabilitou na última semana os abatedouros Astra, de Cruzeiro D´Oeste, e VPR, de Colorado, à exportação. As duas empresas afirmam que vinham fazendo altos investimentos para se adequarem às normas sanitárias da Rússia, considerado um dos consumidores mais exigentes da atualidade.
Com a abertura do mercado às companhias paranaenses, o setor produtivo e o próprio governo calculam que os embarques devem superar as 40 mil toneladas neste ano. O número tende a ser maior, já que há um esforço da cadeia produtiva para conquistar outros mercados, como Irã e Israel.
No ano passado, 22 mil toneladas da carne de boi do Paraná foram destinadas a compradores externos. Se a meta para este ano for alcançada, o estado recupera o volume pré-crise da aftosa, em 2005. O desempenho estadual foi agravado em 2011, quando o JBS decidiu fechar as portas de sua unidade em Maringá (Noroeste). A planta era a única do estado habilitada à exportação.
Adequação
Depois de investir mais de R$ 40 milhões na adequação de suas estruturas, os dois frigorífico habilitados esperam que as vendas deem um salto no curto prazo. O Astra foi o que fez o maior investimento: foram R$ 35 milhões em quatro anos para adaptar a planta de 12 mil metros quadrados às exigências internacionais, segundo o proprietário, Jeremias Silva Júnior.
"As vendas para os russos devem começar em 15 dias. A intenção é negociar 2 mil toneladas por mês, o que garante um crescimento de 30% nas vendas", revela. O reforço no comércio também vai exigir a abertura de um turno extra de trabalho e a contratação de mais 200 funcionários.
O VPR Brasil, por sua vez, investiu R$ 6 milhões. A empresa já exporta para a Rússia por meio de uma unidade no Paraguai, conta Jeferson da Luz Gonçalves, gerente geral. "Como temos clientes na Rússia, será mais fácil negociar. Isso vai dar mais segurança e estabilidade ao negócio", avalia. A meta é destinar 70% da produção para o mercado internacional.
"A Rússia é um país que compra bastante e paga em dia. Com essa abertura será possível ampliar o volume de exportações e obter preços mais altos para os pecuaristas", avalia Antônio Jorge Camardelli, presidente da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec). O dirigente explica que há benefício para toda a cadeia produtiva, pois com demanda garantida há incentivo para aumento da produção no campo.
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