O número de acessos à banda larga já não cresce como antes e a tevê por assinatura está perdendo clientes. Mas o faturamento da paranaense Fibracem, que depende desses dois mercados, continua avançando a taxas de dois dígitos. A empresa, que produz cabos ópticos e acessórios em Pinhais, na Grande Curitiba, precisou até contratar funcionários para dar conta da expansão – o quadro aumentou de 115 para 140 pessoas desde o início do ano.
Segundo a diretora de marketing e qualidade, Carina Bitencourt, o desempenho não está ligado a nenhuma estratégia revolucionária, e sim às práticas cotidianas de inovação em processos e produtos e de austeridade nas finanças que a empresa manteve durante os anos de crescimento acelerado do mercado.
“Não houve uma ação específica para enfrentar a crise. O que acontece é que, nos últimos anos, nunca deixamos de investir em maquinário, qualificar mão de obra, combater desperdícios e produzir localmente mesmo quando o câmbio favorecia os produtos importados. E sempre com uma gestão muito cuidadosa na parte financeira”, diz Carina. “Foi uma expansão sem exageros, sem endividamento, com muito cuidado.”
A solidez na área operacional e o caixa em ordem estão permitindo à Fibracem avançar sobre o mercado de concorrentes que ficaram pelo caminho. Enquanto o dólar esteve barato, muitos deles deixaram de produzir no Brasil para serem montadores ou revendedores de produtos chineses, que entravam no país com preços imbatíveis. Quando a moeda norte-americana começou a subir com mais força, a partir do início de 2015, começou a quebradeira. E a Fibracem, que apostou em produção própria, ganhou espaço.
“Importar ficou muito mais caro de repente. Empresas que mal tinham capital de giro deixaram o mercado, e outras tiveram que se adaptar. Algumas das que montavam equipamentos com peças da China hoje compram nossos produtos”, conta a diretora.
Pequenos provedores
Também conta a favor da Fibracem o fato de atuar num nicho que, por enquanto, foi menos afetado pela crise: os pequenos provedores de internet. “Essas empresas, que atuam principalmente em municípios menores, no interior, continuam investindo. Não tanto quanto antes, mas continuam”, diz Carina.
Enquanto isso, operadoras gigantes como Claro, Oi, Vivo e TIM, que dominam quase 90% do mercado nacional, pisam no freio. Segunda maior fabricante de fibras ópticas do país, a Furukawa, que tem fábrica em Curitiba, estima que o mercado brasileiro vai encolher quase 30% neste ano, segundo o jornal Valor Econômico.
Dados da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) e da consultoria Teleco reforçam a tendência de estagnação. No fim de março, havia 18,95 milhões de acessos de tevê por assinatura no país, cerca de 4% menos que um ano antes, segundo dados da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) e da consultoria Teleco. A banda larga fixa cresceu 5% em um ano, para 25,77 milhões de acessos. No começo de 2015, no entanto, o avanço beirava os 8%.