O número de acessos à banda larga já não cresce como antes e a tevê por assinatura está perdendo clientes. Mas o faturamento da paranaense Fibracem, que depende desses dois mercados, continua avançando a taxas de dois dígitos. A empresa, que produz cabos ópticos e acessórios em Pinhais, na Grande Curitiba, precisou até contratar funcionários para dar conta da expansão – o quadro aumentou de 115 para 140 pessoas desde o início do ano.
Siga a Gazeta do Povo no LinkedIn
Segundo a diretora de marketing e qualidade, Carina Bitencourt, o desempenho não está ligado a nenhuma estratégia revolucionária, e sim às práticas cotidianas de inovação em processos e produtos e de austeridade nas finanças que a empresa manteve durante os anos de crescimento acelerado do mercado.
“Não houve uma ação específica para enfrentar a crise. O que acontece é que, nos últimos anos, nunca deixamos de investir em maquinário, qualificar mão de obra, combater desperdícios e produzir localmente mesmo quando o câmbio favorecia os produtos importados. E sempre com uma gestão muito cuidadosa na parte financeira”, diz Carina. “Foi uma expansão sem exageros, sem endividamento, com muito cuidado.”
GALERIA: Conheça a fábrica e os produtos da Fibracem
DOIS DÍGITOS
Nos últimos quatro anos, o faturamento da Fibracem mais que dobrou, chegando a R$ 32 milhões em 2015. No primeiro trimestre deste ano, as receitas somaram pouco mais de R$ 10 milhões, com um salto de 56% em relação ao mesmo período do ano passado. A expectativa para o ano todo é mais modesta: a empresa prevê uma expansão entre 18% e 22%.
A solidez na área operacional e o caixa em ordem estão permitindo à Fibracem avançar sobre o mercado de concorrentes que ficaram pelo caminho. Enquanto o dólar esteve barato, muitos deles deixaram de produzir no Brasil para serem montadores ou revendedores de produtos chineses, que entravam no país com preços imbatíveis. Quando a moeda norte-americana começou a subir com mais força, a partir do início de 2015, começou a quebradeira. E a Fibracem, que apostou em produção própria, ganhou espaço.
“Importar ficou muito mais caro de repente. Empresas que mal tinham capital de giro deixaram o mercado, e outras tiveram que se adaptar. Algumas das que montavam equipamentos com peças da China hoje compram nossos produtos”, conta a diretora.
Pequenos provedores
Também conta a favor da Fibracem o fato de atuar num nicho que, por enquanto, foi menos afetado pela crise: os pequenos provedores de internet. “Essas empresas, que atuam principalmente em municípios menores, no interior, continuam investindo. Não tanto quanto antes, mas continuam”, diz Carina.
Enquanto isso, operadoras gigantes como Claro, Oi, Vivo e TIM, que dominam quase 90% do mercado nacional, pisam no freio. Segunda maior fabricante de fibras ópticas do país, a Furukawa, que tem fábrica em Curitiba, estima que o mercado brasileiro vai encolher quase 30% neste ano, segundo o jornal Valor Econômico.
Dados da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) e da consultoria Teleco reforçam a tendência de estagnação. No fim de março, havia 18,95 milhões de acessos de tevê por assinatura no país, cerca de 4% menos que um ano antes, segundo dados da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) e da consultoria Teleco. A banda larga fixa cresceu 5% em um ano, para 25,77 milhões de acessos. No começo de 2015, no entanto, o avanço beirava os 8%.
ÚLTIMA MILHA
O principal produto da Fibracem é a caixa de emenda óptica, equipamento instalado nos postes de distribuição que “divide” um cabo óptico em várias fibras, para serem encaminhadas aos prédios e residências da região. A Fibracem também produz racks (gabinetes) para centros de processamentos de dados. E, desde 2012, fabrica cabos ópticos e acessórios para a chamada “última milha” – são eles que levam internet, tevê digital e telefonia da rede principal, na rua, até o interior das residências.
Pai, mãe e filha dirigem a empresa
A Fibracem foi fundada em 1993 por Luiz Carlos Bitencourt, um técnico de telecomunicações que deixou a fabricante de fibras ópticas Furukawa, de Curitiba, para abrir a própria empresa, aproveitando que gigantes como a antiga empregadora estavam terceirizando a produção de acessórios. É ele que coordena o desenvolvimento dos produtos da empresa, num laboratório que tem metas para registrar novas patentes a cada ano.
A área de marketing e qualidade é dirigida por Carina Bitencourt, filha de Luiz Carlos. E quem cuida das finanças é Ariane Figueiredo Bitencourt, mãe de Carina. Seu departamento só aprova uma venda após uma análise cuidadosa do contrato social e do histórico de crédito do comprador, o que reduz o risco de inadimplência. Clientes do setor público em geral são vetados; a principal exceção é a Copel Telecom, subsidiária da estatal de energia.
Reforma tributária promete simplificar impostos, mas Congresso tem nós a desatar
Índia cresce mais que a China: será a nova locomotiva do mundo?
Lula quer resgatar velha Petrobras para tocar projetos de interesse do governo
O que esperar do futuro da Petrobras nas mãos da nova presidente; ouça o podcast