O paranaense é um dos consumidores brasileiros que menos usa cartão de crédito para fazer compras parceladas sem juros. Em 2006, dos R$ 4,5 bilhões movimentados no estado via cartão, somente 39,1% foram gastos em parcelamentos sem acréscimo. No Brasil, só Santa Catarina tem porcentagem menor: 38,7% do total de R$ 3 bilhões movimentado no estado. No ano passado, o uso de cartões de crédito em todo país representou um faturamento de R$ 156,9 milhões, montante garantido por 78 milhões de cartões ativos. Os dados fazem parte do estudo "A geografia do cartão de crédito no Brasil", divulgado ontem pelo banco Itaú.
A Região Sul, aponta o levantamento, é a que menos aderiu ao cartão de crédito. Os consumidores de Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul respondem por apenas 8% dos cartões de crédito brasileiros e 8% do volume movimentado, somando R$ 12,2 bilhões. É metade do potencial traçado para a região.
Considerando-se como população alvo moradores de áreas urbanas, maiores de 18 anos e com renda pessoal acima de R$ 250, o Sul poderia responder por 16% dos usuários de cartão do Brasil.
Os consumidores do Sul, mostra a pesquisa, também são os brasileiros que mais priorizam as compras pagas à vista. Enquanto a média nacional é de 81% de escolha pelo pagamento no ato da compra, no Sul o índice sobe para 86%, sendo 79% das compras feitas em dinheiro. Dos 13% de pagamentos feitos a prazo na região, 9% são feitos com cartão. A média brasileira é de 16% de compras a prazo, sendo 12% com cartão.
Para o diretor de marketing de cartões do banco Itaú, Fernando Chacon, foi a falta de aceitação dos cartões no varejo e não um comportamento diferenciado que fez com que a Região Sul utilizasse menos o cartão do que o resto do país. "O grande grupo português [Sonae] que até pouco tempo liderava o ramo de supermercados não aceitava todos os tipos de cartão de crédito. O Sul ainda tem lojas que só vendem a prazo na base de carnês de pagamento, enquanto em outras regiões isso é raro. Essa demora na aceitação fez com que o cartão também demorasse para se popularizar", avalia o diretor.
A previsão do banco é de que o número de cartões na região aumente em 25% este ano. "É o segundo maior potencial de crescimento, depois do Nordeste, que deve crescer 26%", prevê Chacon.
O Sudeste e o Nordeste são as duas regiões brasileiras que mais usaram cartões de crédito em 2006, respondendo por 58% e 22%, respectivamente, do volume movimentado no país. A justificativa para os números está no fato de o Sudeste ser o maior pólo financeiro e econômico do país e de que no Nordeste os cartões são amplamente utilizados pelas classes de menor renda, como uma das poucas fontes de financiamento possíveis.
Sem conta
Na opinião do diretor da consultoria financeira Fractal, Celso Grisi, a variação de adoção do cartão de crédito de uma região para outra não indica um comportamento de crédito diferente. "Para a população bancarizada, não há variação. Todas as regiões adotam o cartão da mesma forma. O que muda é para a população de baixa renda, que não tem conta no banco, e utiliza o cartão como uma fonte de crédito, não só para postergar a data do pagamento", diz ele.
Para Grisi, o que pode fazer com o que o Sul utilize crédito aquém do potencial é o fato de a renda do usuário na região ser maior do que no Sudeste e no Nordeste, o que acaba favorecendo o pagamento à vista.