Depois do tombo no ano passado, as ações das empresas paranaenses na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) voltaram a subir nos últimos meses, no embalo da recuperação do mercado de capitais brasileiro. O movimento vem sendo puxado justamente por companhias que tiveram as maiores quedas nos preços de seus papéis. Após liderar as perdas no ano passado, Positivo Informática, Companhia Providência e Paraná Banco acumulam no ano valorização muito acima do Ibovespa (índice que reúne as principais ações negociadas na bolsa brasileira), aponta levantamento da consultoria Economática feito a pedido da Gazeta do Povo.
"É natural que as empresas que mais perderam sejam agora as que puxem a retomada. Mas os preços dos papéis ainda estão se recuperando aos poucos e estão em um patamar muito abaixo do valor de lançamento", afirma JasonVieira, da UpTrend.
A retomada do crédito que beneficia o consumo e os financiamentos e a volta do investidor estrangeiro ao mercado de capitais ajudam a explicar o desempenho do Paraná Banco e da fabricante de computadores Positivo Informática. O primeiro, especializado em empréstimos com desconto em folha, sofreu os efeitos da redução de liquidez no mercado. A segunda tem boa parte das suas vendas atrelada a financiamentos.
"No caso da Companhia Providência, a melhora de indicadores financeiros da empresa, que produz nãotecidos (usados na fabricação de fraldas e roupas médicas, dentre outros) ajudou a elevar a cotação dos papéis, embora a indústria ainda seja pouco conhecida do mercado", diz Gustavo Gattass, analista do UBS Pactual.
Nos três casos, porém, os atuais preços estão muito abaixo do da oferta de ações, e, para alguns analistas, ainda é cedo para afirmar que o movimento de alta da Bovespa veio para ficar. O caso mais emblemático é das ações da Positivo, que foram lançadas a R$ 21,94, no fim de 2006, e que fecharam o pregão de ontem valendo R$ 10,20.
"O mercado tem, de maneira geral, insistido em ler indicadores econômicos frágeis como positivos. Então não podemos sustentar que essa retomada é consistente", afirma Rogério Garrido, gerente da filial da corretora Fator em Curitiba. Segundo ele, não é impossível que a Bovespa retorne rapidamente aos 45 mil pontos, com a pressão por realização de lucros por parte dos investidores.
Tendência nacional
O movimento de recuperação de ações "abatidas" com a crise, no entanto, não é restrito às empresas paranaenses. Um estudo nacional da Economática mostra que ações de construtoras, bancos médios, frigoríficos, usinas de álcool e açúcar lideram os ganhos no acumulado do ano. São setores prejudicados pela contração no crédito, aperto na liquidez e problemas de geração de caixa.
Também são segmentos que, em alguma medida, foram beneficiados por programas específicos do governo para reativar a economia. No caso das construtoras, o impulso veio também do programa "Minha Casa, Minha Vida", voltado para a habitação para baixa renda.
Já os bancos pequenos tiveram socorro por meio de venda de carteira de crédito, liberação de compulsórios e recursos do Fundo Garantidor de Crédito. A maior parte das empresas que lideram esses ganhos também são novatas abriram seu capital na bolsa entre 2006 e 2007, época em que explodiu a entrada de investidores estrangeiros.
"Alguns IPOs (oferta inicial de ações) lançaram papéis com preços muito altos. Como o mercado não conhecia essas empresas, é natural que elas fossem mais penalizadas em um primeiro momento da crise", diz Daniel Malheiros, da Petra Corretora. "O investidor não avaliava, nessa época, se a empresa ia bem e seu potencial de mercado e sim como ele podia honrar seus compromissos lá fora", acrescenta.
Para analistas, o comportamento de papéis de empresas como Copel, GVT e América Latina Logística (ALL) cuja valorização está abaixo do desempenho do Ibovespa não necessariamente é ruim. Elas estão no grupo das chamadas ações "defensivas": caem menos em época de crise e sobem menos na retomada. Para a XP Investimentos, estão nesse bolo empresas menos afetadas pela crise porque dependem mais do mercado interno, como as companhias de energia, telefonia, alimentos e algumas do setor de infraestrutura.
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