O forte aquecimento no mercado doméstico ajudou a impulsionar o preço das passagens aéreas em 7,56% entre 15 de agosto e 15 de setembro, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A alta é 25 vezes superior à inflação no período, que ficou em 0,3% segundo o IPCA-15.
Em Curitiba, a alta em setembro foi de 5,6%, após uma queda de 11,8% no mês passado. As passagens para os paranaenses acumulam deflação de 2,64% desde janeiro, valor inferior à queda acumulada de 6,5% na média nacional. Os cariocas pagam hoje cerca de 12% a menos para viajar de avião em relação aos preços praticados no início do ano. São Paulo, Rio e Belo Horizonte lideram a alta mensal, com reajustes de 10,78%, 9,53% e 9,51%, respectivamente.
O reajuste ocorre em meio à alta de 16% no número de passageiros em voos nacionais, entre os meses de julho e agosto. Em relação ao mesmo período do ano passado, o aumento é de 23%. "Houve um crescimento acima do esperado até mesmo para as companhias. Com isso, as empresas estão aproveitando a alta na demanda para repor suas margens de lucro", avalia o professor de mercadologia e gestão de empresa aérea da Faculdade de Ciências Aeronáuticas da Universidade Tuiuti do Paraná (UTP), Mauro Martins.
Para ele, a tendência é de que os preços se estabilizem no médio prazo, embora ainda haja espaço para novas altas nos próximos dias em razão dos problemas da Webjet (leia matéria nesta página). "A empresa, que vem trabalhando com níveis de ocupação próximos aos 80%, deverá suspender as operações até sexta-feira para se adequar à legislação. Isso deve aumentar a procura nas outras empresas, que vão aproveitar para aumentar seus lucros. À medida que as empresas se estabilizarem, os preços tendem a baixar novamente."
O ex-diretor da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) e consultor do Sindicato Nacional das Empresas Aeroviárias (Snea), Allemander Pereira Filho, não compartilha dessa avaliação. Ele aposta em alta dos preços até o fim do ano, ainda que em ritmo mais lento. Além de fatores sazonais historicamente, viaja-se mais no segundo semestre , o incremento na renda média do trabalhador pode contribuir para pressionar a demanda por voos, diz o consultor. Em agosto, o ganho médio do trabalhador brasileiro atingiu R$ 1.472,10, o maior patamar desde 2002. "A consolidação da classe C fez uma parcela da população descobrir o transporte aéreo. Sem dúvida, é ela que está puxando a demanda", diz Pereira Filho.
Para Martins, essa pressão não deve inibir as tradicionais ofertas de fim de semana, que em geral apresentam taxas de ocupação mais baixas e oferecem descontos de até 70% no preços das passagens. "Para quem pode se programar, a compra antecipada é a melhor forma de economizar. Já o executivo, que precisa viajar em cima da hora, vai mesmo pagar mais caro", aponta.
O mercado corporativo é menos sensível a preço e acaba sendo empurrado para as tarifas mais altas, o que se reflete no preço médio das passagens. Essa lógica pode estar por trás das altas verificadas em setembro em São Paulo, Rio e Belo Horizonte, cidades que concentram o mercado corporativo. O perfil de público predominantemente executivo também pode ajudar a explicar o comportamento dos preços praticados em Curitiba, que historicamente tem alta acima da média nacional em períodos de reajuste.
Em agosto, o Aeroporto Internacional Afonso Pena recebeu 532,5 mil passageiros em voos domésticos e, pela primeira vez em sua história, ultrapassou o movimento do Aeroporto Internacional do Recife, que movimentou 481,2 mil pessoas no mesmo período. A diferença é que na capital pernambucana a maior demanda é por voos turísticos. No acumulado do ano, as passagens para Recife acumulam queda de 8,94%, contra 2,64% em Curitiba.