O ministro do Planejamento, Orçamento e Gestão, Paulo Bernardo, defendeu a aplicação de medidas "restritivas" para pressionar o sistema financeiro nacional a funcionar normalmente neste momento de escassez de crédito. "Ao menor sinal de crise, saiu todo mundo correndo. É uma atitude ruim, porque o banco tem de ver o setor produtivo como parceiro. Não pode só emprestar dinheiro quando o sujeito não precisa", explicou o ministro, em entrevista ao jornal "Zero Hora".
"Eu tenho dinheiro aplicado, e fica o gerente ligando para ver se eu não quero financiar alguma coisa. Quando eu tenho dificuldade, ele some. Estamos dialogando, mas talvez precise dar uns joelhaços para o pessoal entender qual é a missão de cada um", afirmou Bernardo.
O ministro disse que o governo pode exercer sua atividade regulatória e prestigiar as cooperativas de crédito, que têm crescido muito. "Os bancos públicos não vão dar conta de tudo", afirmou.
O ministro avaliou que o Banco Central deve ter espaço em 2009 para voltar a reduzir a taxa básica de juros. Segundo ele, a demanda, que ainda está aquecida, tende a diminuir no começo do ano, reduzindo a pressão inflacionária. "No mundo inteiro, as taxas estão caindo. Mas, até o começo de outubro, estivemos em situação diferente, e o Banco Central trabalhava para conter a inflação. A situação mudou. Temos de cuidar da atividade econômica."
Bernardo disse acreditar que o primeiro semestre do próximo ano será ruim, comparado com o deste ano. Por outro lado, disse que espera que a crise comece a ser solucionada. "Provavelmente, no segundo semestre de 2009, teremos já um cenário de saída da crise. O Brasil vai-se beneficiar disso também", afirmou.
A uma pergunta se esse cenário compromete a sucessão do presidente Lula para 2010, o ministro respondeu que aposta que os bons resultados da economia manterão a popularidade do presidente. "Se houver um quadro econômico ruim em 2010, tende a corroer a popularidade, mas não vai ter esse problema. Vamos sair de 2009 já com um cenário de superação", disse.
O ministro afirmou que o governo continuará mirando num crescimento econômico de 4% em 2009, mas revelou que, inicialmente, se pensou em incluir na proposta orçamentária uma estimativa de 3,5%. "O resultado de janeiro a setembro é pornográfico: 5,6%. Não vamos diminuir a meta para 2009. Mas podemos ter um resultado cravado. Isso significa irresponsabilidade? Não. Onde houver condição de economizar, vamos cortar. Mas onde precisar, vamos aplicar, como no fomento às empresas", explicou.
O ministro previu ainda que a geração de novos empregos cairá "bastante" no próximo ano. Segundo ele, se o País gerar 1,5 milhão de empregos será um número expressivo, mas quase 700 mil a menos do que esse ano. Bernardo disse que a votação da reforma tributária estimularia o emprego e facilitaria a formalização de empresas