Em Jaguariaíva, cidade com 31,8 mil habitantes, a economia depende essencialmente da Norske Skog. O secretário municipal de Indústria e Comércio, Jonis Cava Guimarães, explica que a empresa é peça central para a geração e empregos na cadeia da madeira. "Se a produção parar, não tem como tirar madeira, afetando os empregos na área de corte e remoção. Se não tem tora, não tem transporte, atingindo outras empresas. E aí o posto de combustível, por exemplo, também não vende", relata.
A preocupação maior é com o pessoal do corte de madeira. "São trabalhadores menos qualificados e de baixo poder aquisitivo. O impacto social pode ser enorme", aponta. Mesmo a arrecadação da prefeitura ficará comprometida com a parada. Além da queda no comércio, haverá ainda a redução no repasse da cota de ICMS vindo da energia elétrica consumida pela fábrica.
Embora os funcionários da Norske estejam com salário e emprego garantidos por enquanto, os trabalhadores que atuam no corte de madeira não terão o que fazer quando a produção na fábrica for interrompida. Um empresário do corte de madeira, que preferiu não ter o nome revelado, conta que depende da Norske e que não conseguiria remanejar as toras para outra empresa. Com algumas dúzias de funcionários, ele simplesmente não sabe como pagar as despesas da empresa enquanto a fábrica não estiver produzindo.
O presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Papel em Jaguariaíva, Benedito Cardoso, conta que os funcionários da Norske estão ansiosos, mas entendem que se trata de uma situação além do controle da empresa. "Todos vão ficar na expectativa de que até o fim de maio o cenário na economia seja mais animador para que os empregos estejam assegurados", diz.
Temor
Funcionário do setor de produção, Abel dos Santos está acostumado com o ritmo da fábrica que funciona 24 horas por dia. "O clima está ruim. Eu trabalho há 24 anos e nunca ouvi falar em parada", conta. Ele confessa que o temor geral é de que venham demissões. "Ainda é só uma parada, mas alguns funcionários já estão apreensivos", afirma.
Mesmo sem impacto imediato na remuneração dos funcionários, o temor dos comerciantes é que o dinheiro pare de circular em função do momento de expectativa. Proprietária de uma farmácia na avenida principal da cidade, Leline de Barros da Silva afirma que 80% dos clientes têm alguma relação com a multinacional norueguesa. "É o pessoal da serraria, que usa parte da madeira, são os empreiteiros e os funcionários do corte e os empregados das transportadoras. Isso sem falar no restante dos comerciantes, que também dependem da movimentação da fábrica", salienta. Ela ainda não consegue prever qual será o impacto nas vendas com a interrupção da produção.
Com o projeto de expansão da Norske, Jaguariaíva tinha a expectativa de experimentar o mesmo boom que atingiu Telêmaco Borba, nos Campos Gerais, com a ampliação da papeleira Klabin. Mas a esperança se transformou em desilusão, quando o projeto foi interrompido. O prédio construído para abrigar a equipe convocada para organizar a ampliação virou depósito. Em abril, quando era para a nova máquina estar em pleno funcionando, os funcionários estarão se preparando para um período de descanso forçado.