O jornal americano The New York Times confirmou na semana passada os boatos que há algum tempo circulavam na mídia: a partir de 2011, vai cobrar pelo acesso ao seu conteúdo na internet. A mudança no NYTimes.com, um dos portais mais lidos do mundo, é um novo capítulo de uma discussão pela qual passam praticamente todos os grandes jornais do planeta cobrar? Como e quanto? Perguntas recorrentes, mas que ainda têm pouquíssimas respostas definitivas.Em comunicado, o The New York Times informa que está construindo um modelo de cobrança que será iniciado depois que o leitor já tiver acessado um certo número de artigos no mês mas não define quanto. Os assinantes da versão impressa continuarão a ter acesso gratuito ao site.Há poucos dias a revista The Economist também fechou seu conteúdo na internet. Outros grandes jornais, como o britânico Financial Times e o americano The Wall Street Journal já cobram por boa parte dos seus textos que estão na web o último, US$ 1,99 por semana. No Brasil, O Globo e a Folha de S. Paulo têm matérias fechadas, com pacotes de leitura para não assinantes da versão impressa.
Mas há também quem tenha voltado atrás. O próprio NYT já cobrou, entre 2005 e 2007 pelo acesso a editoriais e colunas. O "TimesSelect" chegou a atrair 210 mil assinantes que pagavam, na época, US$ 49,95 por ano. Mas, para garantir mais acesso ao endereço eletrônico, voltou atrás da decisão.
"Há uma certa tendência de que, de alguma maneira, os conteúdos, ou parte deles, sejam cobrados. Uma forma híbrida de cobrança me parece inevitável. Mas como e quando isso vai ser feito, não dá para saber ainda", diz o diretor executivo da Associação Nacional dos Jornais (ANJ), Ricardo Pedreira.
Pedreira lembra que quando a internet surgiu no Brasil havia a perspectiva de que seria possível distribuir de forma gratuita todo o conteúdo considerando que o aumento de audiência, e consequentemente de publicidade, sustentaria a operação. "Mas o tempo tem mostrado que esta equação não fecha. É difícil imaginar que os jornais funcionarão como a tevê aberta no Brasil, custeados 100% por publicidade", defende. "O conteúdo totalmente aberto passou a ser regra em um determinado momento. Mas o entendimento agora é de que o usuário está disposto a pagar por um bom conteúdo", completa o diretor de jornalismo da Gazeta do Povo, Nelson Souza Filho. "Mas ainda não há definições de como e quanto cobrar."
É preciso se questionar ainda que conteúdos serão estes na visão do consultor Julio Sampaio, da Resultado Consultoria, especializado no setor. "Será possível vender conteúdo que não seja exclusivo, em uma realidade em que a informação está tão disseminada que, de certa forma, se transformou em commodity?", questiona.
Sampaio cita o The Wall Street Journal como um modelo bem sucedido, mas não acredita que os jornais brasileiros terão sucesso na cobrança de conteúdo. "A publicidade é, e vai continuar sendo, a principal fonte de receita dos jornais. E na internet não é diferente", diz. "Mas, em dúvida, a grande questão dos jornais hoje é a revisão do seu modelo de negócio."
Negócios
Nesta análise do futuro, diz o diretor executivo da ANJ, o Brasil é, de certa forma, beneficiado por estar em um estágio bem menos crítico do que a indústria de jornais nos Estados Unidos, por exemplo. "A indústria lá é mais desenvolvida e, até por isso, o impacto da internet também é muito maior. Mas os debates já começaram aqui tendo em vista o que já aconteceu por lá", diz Pedreira, lembrando que até o ano passado os jornais vinham registrando aumentos sucessivos de circulação. "A situação aqui é mais positiva. Mas precisamos buscar uma nova equação de auto-sustentabilidade."
Ao comunicar a mudança, a presidente-executiva do New York Times, Janet Robinson, disse que o processo de reavaliar o modelo de negócios do jornal tem sido motivado também pelo "desejo de obter diversidade adicional de receitas que nos tornará menos suscetíveis a inevitáveis ciclos econômicos."
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