Não há criança da minha geração que – para o desespero dos pais – já não tenha espalhado pelos quatro cantos da casa um bilhetinho manuscrito, pedindo para eles não se esquecerem de dar uma bicicleta como presente, tal como sugeria o comercial daquela famosa fabricante.

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Sabe a Caloi? Esquece! Ontem a marca foi parar nas mãos da Dorel – dona das marcas Cannondale, GT e Schwinn. Fazendo uma analogia automobilística, é mais ou menos como se a Gurgel fosse comprada pela General Motors.

Marca líder de mercado no Brasil – e provavelmente a primeira bicicleta de 9 em cada 10 brasileiros, salvo uma margem de erro – a Caloi é hoje praticamente uma linha de montagem de peças xing-ling encravada no Polo Industrial de Manaus. Segundo fontes do setor, até 70% dos componentes de uma bicicleta da marca são Made in China.

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No início da década de 1990, o ex-presidente Fernando Collor disse que os carros brasileiros eram carroças pela falta de concorrência. E abriu o mercado automotivo. Só não fez o mesmo com as bicicletas. Nem ele nem nenhum outro presidente desde então.

Ainda hoje, é conhecida aquela história de que os carros nacionais não passam nos testes de segurança exigidos na Europa e Estados Unidos. Com a bicicleta, a história é ainda pior. Pinças de freio de plástico, por exemplo, só aqui e na China.

Mas, para reservar mercado para a indústria nacional – que quebraria diante da concorrência com as estrangeiras – o governo vai na contramão e taxa em 35% a importação.

Mesmo assim, quando um brasileiro compra uma bicicleta nacional, quase metade do que desembolsa vai para o poder público na forma de impostos. A carga incidente sobre uma bicicleta nova equivalente ao preço das duas rodas montadas – aro, cubo, raios, rolamentos e pneus –, e do quadro.

Vivemos em um país que sobretaxa bicicletas e reduz a alíquota de IPI para ampliar a venda de carros. Definitivamente, cada povo tem os políticos, o trânsito e as bicicletas que merece.

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