A pouco mais de dois meses do Natal, comércio e indústria já trabalham a todo vapor para atender à demanda de fim de ano. As encomendas do varejo às fabricantes, que começaram no mês passado, estão até 30% maiores que no mesmo período de 2009. As facilidades do crédito e o crescimento da economia e da renda devem fazer o consumo bater recorde em dezembro.
Pesquisa da consultoria MB Associados revela que os brasileiros devem gastar R$ 98 bilhões neste fim de ano em todo o país, R$ 5,2 bilhões a mais do que no mesmo período do ano passado. Fabricantes de alimentos, de móveis e de vestuário estão tendo que adotar horas extras e colocar mais turnos de produção para dar conta da demanda.
O cálculo da MB Associados foi feito com base nos dados da Pesquisa Mensal do Comércio do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e inclui, além do varejo tradicional, o mercado de automóveis e de materiais de construção. "Os R$ 5,2 bilhões a mais significam que teremos um Natal muito aquecido, ainda mais do que o do ano passado, que foi muito bom", afirma Sergio Vale, economista chefe da MB Associados. Para ele, a economia do segundo semestre continuará rodando no ritmo de produção de antes da crise, já que o Banco Central já sinalizou que a taxa de juros não deve subir até o fim do ano. No acumulado de janeiro a julho, as vendas do comércio ampliado no Paraná cresceram 12,9% na comparação anual, segundo o IBGE.
A expectativa dos varejistas é que os eletroeletrônicos voltem a ter boas vendas no Natal, depois da ressaca com o fim da Copa do Mundo. A rede de hipermercados Condor está aumentando em média em 25% os estoques, entre alimentos e produtos de consumo duráveis, segundo o presidente da rede, Pedro Joanir Zonta.
O Walmart aumentou em média em 20% os pedidos de produtos ligados à comemoração, como ornamentos, enfeites, vinhos, azeites, conservas e aves natalinas, e reforçou as encomendas de eletroeletrônicos. O diretor comercial para a Região Sul, José Luiz Fink, observa que o consumidor deve continuar comprando bem neste fim de ano. "Parte do incremento de vendas vem do aumento do número de pessoas com acesso ao consumo, como é o caso da nova classe média", diz.
Horas extras
Com o varejo puxando as vendas, as indústrias de alimentos, confecções e móveis estão trabalhando no limite da capacidade. A produção de panetones da indústria de alimentos Zaeli, de Umuarama (Noroeste do Paraná), será entre 15% e 20% maior e deve totalizar 80 mil caixas neste ano, segundo Valdemir Zago, presidente da companhia. A fabricação de chocolate em pó, misturas para bolos, azeitonas e frutas secas, além de conservas, chega a dobrar em relação ao restante do ano. Zago diz que a empresa, que emprega cerca de mil pessoas, teve que contratar mais cem temporários para trabalhar em um turno extra de outubro a dezembro.
A fabricante de móveis Kits Paraná, que tem três fábricas em Arapongas (Norte), está produzindo entre 25% e 30% mais para esse Natal. Segundo o diretor presidente da empresa, José Carlos Arruda, as redes de varejo anteciparam as compras, o que não ocorria há pelo menos cinco anos. "Em geral as encomendas ocorrem até o fim de novembro. Hoje 80% dos nossos clientes já estão com os pedidos colocados", diz. A empresa, que produz cozinhas e armários e emprega 800 pessoas, abriu um segundo turno de produção. "A cada 15 dias fazemos a produção equivalente a um mês e meio", afirma. O mercado interno está tão aquecido que os clientes de exportação destino de 8% da produção mensal, de 120 mil peças correm o risco de ficar sem produtos.
Depois de um primeiro semestre fraco, principalmente em razão da Copa, as fabricantes de vestuário da região de Cianorte (Noroeste), um dos principais polos do setor, trabalham em ritmo acelerado. Segundo o vice-presidente do Sindicato da Industria do Vestuário (Sinveste), Alberto Nabhan, a produção para o Natal, que coincide com a coleção de alto verão, deve ser 10% maior em 2010. As empresas, que produzem 3 milhões de peças por mês, também estão à procura de mão de obra.
"As fabricantes estão tendo de contratar costureiras temporárias, por três meses, para atender a produção. Mas achar mão de obra é um desafio", diz Nabhan. Cianorte tem 445 empresas, que empregam diretamente 18 mil costureiras. "Além da falta de mão de obra, há pressão nos preços dos insumos, em especial o algodão. Tivemos um reajuste recente de 10% e já está previsto mais um, de 5%, no próximo mês", afirma.