Remuneração
Em Londrina, salário está baixo
Fábio Luporini, Jornal de Londrina
Assim como em Cianorte, também está faltando mão de obra qualificada no setor de confecções em Londrina, onde a questão salarial vem sendo decisiva. A cidade está perdendo profissionais do ramo para regiões que oferecem melhores salários, como Santa Catarina. A solução apontada pelos empresários também tem sido investir na formação e capacitação de trabalhadores.
"Está faltando mão de obra especializada e a culpa está no salário", afirmou o coordenador do Arranjo Produtivo Local (APL) de confecções em Londrina, Rodrigo Ribeiro de Carvalho. De acordo com ele, há empresas que chegam a pagar R$ 550 para uma costureira. "Em Santa Catarina uma pessoa não costura por menos de R$ 700. Em
Cianorte e Maringá o salário também é um pouco melhor", afirmou.
O presidente do Sindicato das Indústrias do Vestuário no Paraná (Sivepar), Marcos Tadeu Koslovski, concordou que o salário não é dos melhores, mas disse que, se os benefícios forem levados em conta, a remuneração na cidade pode ser melhor que a de Santa Catarina. Para ele, o mínimo da categoria na cidade gira em torno de R$ 630. "É uma salário que as empresas suportam pagar", apontou.
Idade
Koslovski também ressalta que a média de idade dos trabalhadores do setor está alta. "Não é por falta de oportunidades, mas o jovem não conhece o setor e não vê que pode entrar na empresa como auxiliar de costura ou operador de máquina e ter outras possibilidades de crescimento."
Ao todo, Londrina e região têm 630 empresas do setor, que produzem calças jeans, pijamas, uniformes, entre outros produtos. A região compreende cidades como Cambé, Ibiporã, Rolândia, Alvorada do Sul e Bela Vista do Paraíso. "O que tinha de ter é a união dos empresários, para trazer recursos do governo e investimentos para a cidade", disse o coordenador do APL de confecções, Rodrigo Ribeiro de Carvalho.
O tradicional polo de confecções de Cianorte tem ganhado força nos últimos anos com a participação de pequenos municípios da região Noroeste do estado. Cidades como Terra Boa e Japurá já respondem por cerca de 40% da produção regional, que é de 23 milhões de peças por ano. Boa parte dessa migração é explicada pela busca por mão de obra. As informações são do Sindicato das Indústrias do Vestuário de Cianorte (Sinveste).De acordo com a entidade, o número de empresas de confecção instaladas na região aumenta em média 10% por ano. Para o vice-presidente do Sinveste, Alberto Nabhan, a opção pelos municípios vizinhos começou a ganhar força nos últimos 15 anos e não parou de crescer desde então. "Posso afirmar que quase a metade do que é vendido em Cianorte vem da região. Se não fosse por essas cidades, nosso polo não seria o mesmo", disse o empresário, cuja família é uma das pioneiras do setor de confecções de Cianorte.
Hoje o polo contabiliza 450 indústrias (em 47 cidades) e 30 mil trabalhadores diretos e indiretos. "Para acompanhar o crescimento da produção, a nossa área de atuação vem sendo ampliada. Atualmente, municípios em um raio de até 250 quilômetros produzem para Cianorte", salientou Nabhan.
Além de abastecer o polo cianortense, municípios com menos de 20 mil habitantes oferecem a mão de obra que não é encontrada em cidades maiores. "Nas cidades vizinhas existem mais costureiras disponíveis. Como há menor opção de vagas no mercado de trabalho, as pessoas que procuram emprego acabam optando pela indústria da confecção. Já em Cianorte, os profissionais do vestuário sofrem um assédio maior de outros setores da indústria ou do comércio", explicou o empresário.
Uma das empresas que decidiu apostar em outros municípios é a Be Eight, que conta com filiais espalhadas pela região. Segundo um dos sócios, Admir Nabhan, irmão do presidente do Sinveste, a opção de expandir para as cidades vizinhas foi tomada por volta de 1995. "A produção no polo de Cianorte cresceu muito e não tinha mão de obra para acompanhar esse desenvolvimento", explicou. Atualmente, a empresa mantém operações em Nova Olímpia, Perobal, Cruzeiro do Oeste e Jussara.
Entre as cidades que mais receberam empresas do ramo do vestuário está Terra Boa, a 26 quilômetros de Cianorte, com mais de 50 facções e indústrias de confecção. De acordo com o secretário municipal da Indústria e Comércio, Eduardo Magon, a moda surgiu como alternativa à agricultura. "O município se viu na necessidade de buscar uma nova opção para empregar e movimentar o comércio", contou. Hoje, a confecção responde por 30% da economia local, empregando cerca de 2,5 mil pessoas no município com 15 mil habitantes.
Uma das primeiras pessoas a trabalhar com o vestuário em Terra Boa foi Luciene Mendonça de Assis. Ela fez parte do quadro de funcionários da primeira empresa do setor no município, a DCS, instalada em 1984. "O início não foi fácil. Antes, o pessoal só trabalhava na roça, mas era uma turma com vontade de aprender e vencer na vida", conta ela, que é gerente de produção da For Boys, empresa que tem lojas em várias cidades do Paraná e de São Paulo.
Segmento desperta pouco interesse entre os jovens da região
Para os empresários do setor de confecções, a falta de mão de obra qualificada ocorre, principalmente, pela falta de perspectiva do jovem em crescer na profissão. Segundo o vice-presidente do Sinveste, Alberto Nabhan, existem pelo menos 2 mil vagas disponíveis para costureiros somente em Cianorte. "O vestuário enfrenta forte concorrência de outros setores que oferecem melhor remuneração. Vários profissionais deixam a confecção para trabalhar em empresas de outros ramos. Além disso, jovens não querem ser costureiros. Isso é um desafio que os empresários estão enfrentando".
Diante da carência, várias empresas estão apostando em cursos de capacitação. Segundo a psicóloga Natália Paulino, responsável pelo departamento de recursos humanos da For Boys em Terra Boa, a maioria dos participantes acabam sendo efetivados. "Ficam na empresa os que realmente estão dispostos a aprender". Foi o caso de Ednaldo Santana Rosa, 21 anos, encarregado de expedição. "Tem de aproveitar a oportunidade, fazer os cursos, aprender com o pessoal e se aperfeiçoar cada vez mais. Assim, buscamos nosso espaço".
Para Oseias de Souza Gimenez, presidente do Arranjo Produtivo Local (APL) de Cianorte, casos como o de Ednaldo são cada vez mais difíceis de encontrar. "Além das empresas, o Sesi e o Senai também oferecem treinamentos, mas às vezes faltam participantes para fechar uma turma. O jovem não está interessado nessa profissão", afirmou.
Informalidade
Além da falta de interesse e pouca qualificação dos profissionais interessados, as indústrias de confecções de Cianorte ainda enfrentam o crescimento da informalidade. Segundo o Sindicato das Costureiras, cerca de 5 mil trabalhadores do setor na região não têm registro em carteira. "Na confecção, a maioria da mão de obra é feminina. Elas preferem trabalhar informalmente em casa, junto com a família", explicou Elizabete Alves, presidente do sindicato.
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