O empresário Eduardo Hernandes de Oliveira, 28 anos, abriu a doceria Império do Brigadeiro em Curitiba (PR) há um ano com um cardápio de “encher os olhos” dos clientes pela diversidade de taças de sorvetes e brigadeiros. Com o amadurecimento do negócio e entrada de dinheiro no caixa, há sete anos Oliveira adotou sistemas tecnológicos para organizar os pedidos e para agilizar os processos financeiros e trabalhistas da loja. O que ele não imaginava é que o investimento seria tão pequeno e o retorno, tão alto.
“No começo, não investimos em tecnologia por falta de dinheiro e porque a gente não sabia que existem soluções para negócios pequenos como o nosso. O ganho [do investimento] foi imenso porque agora todas as informações financeiras da nossa loja estão salvas em um mesmo lugar”, explica o empresário, que antes anotava tudo em um caderno.
Para realizar a transformação digital do Império do Brigadeiro, Oliveira conta que foi necessário comprar três computadores e algumas máquinas para pagamento em cartão de débito e crédito. Além disso, paga uma mensalidade de R$ 250 pelo sistema de gestão financeira e de ponto oferecido por uma fintech — gasto que ele considera baixo pela agilidade e pela organização proporcionadas pela solução.
“Se tudo continuar bem com a doceria, pensamos em aceitar bitcoins como forma de pagamento no futuro”, planeja o empresário, otimista com a tecnologia nos negócios.
Falta de informação sobre soluções tecnológicas de baixo custo não é caso raro entre pequenas e médias empresas, como a doceria de Oliveira. Pelo contrário: o desconhecimento é o principal motivo (42,40%) que leva as PMEs a não contratarem crédito de fintechs, segundo pesquisa "PME + Startups: Uma receita de sucesso", realizada pelo BoostLab, aceleradora do BTG Pactual, e pela ACE Cortex, braço de consultoria da empresa de inovação ACE. Em segundo lugar, estão dúvidas sobre a segurança (26,20%), seguidas pela preferência por bancos tradicionais (23,70%).
“Os pequenos empreendedores matam um leão por dia. O caderno e o bloco de notas acabam sendo o sistema de gestão deles por falta de conhecimento, não por falta de dinheiro. A parte de gestão é muitas vezes deixada de lado pelo excesso de trabalho”, explica Gabriel Motomura, diretor-executivo do BTG Pactual e mentor do BoostLab.
Em razão da prioridade para as vendas e o retorno financeiro, a digitalização dos processos (28%) acaba em último lugar entre os pilares de crescimento das PMEs, empatada com a estruturação de governanças, de acordo com o estudo (confira mais detalhes da pesquisa no gráfico abaixo).
“As startups oferecem serviços para que os pequenos empresários foquem no que eles fazem de melhor. Ou seja, no core business deles. O mercado de PMEs está menos povoado pela limitação de crédito, mas está com melhores competidores”, compara Motomura.
Qualificação para um mercado em transformação
Para transformar seu escritório de arquitetura, Gabriela Lemos, 28, decidiu transformar-se como profissional primeiro: fez cursos de marketing digital, aprendeu a utilizar as redes sociais para fins comerciais e testou sozinha diversas plataformas de gestão de trabalho.
Como resultado, a arquiteta afirma que hoje tem uma empresa mais integrada tanto presencialmente quanto à distância. “Implantei um sistema de gestão financeira que me permite acompanhar todo fluxo de caixa do escritório pelo celular e adotei um dashboard (painel de trabalho) para a minha equipe atualizar as demandas e compartilhar comigo on-line”, explica ela, durante suas férias na Argentina.
Segundo Gabriela, apesar da agilidade que a tecnologia trouxe para seu escritório, a adaptação exigiu tempo. “Levei um ano e meio para incluir essas novidades na minha vida profissional. Usar as redes sociais para promover o meu trabalho foi o grande desafio porque os posts comerciais são muito diferentes dos pessoais”, destaca ela, que agora planeja estrategicamente o conteúdo que posta no Instagram e no Facebook do escritório.