Cada vez mais populares, os leitores de cartões magnéticos estão invadindo comércios onde o dinheiro vivo sempre imperou, como entregas de motoboy, feiras e bancas de cachorro-quente. O fenômeno não ocorre por acaso. No fim do ano passado estavam no mercado mais de 628 milhões de cartões, incluindo plásticos de débito, crédito e de redes de varejo, segundo a Associação Brasileira das Empresas de Cartão de Crédito e Serviços (Abecs). O aumento em relação ao ano anterior foi de 11%.
De olho nesta enorme quantidade de "dinheiro de plástico" no mercado é como se cada brasileiro possuísse três cartões , os comerciantes de pequeno porte se modernizaram e ofereceram aos consumidores a chance de pagar com cartão, atendendo a uma demanda dos clientes e ainda visando aumentar os lucros.
No ano passado, 5 mil profissionais autônomos de todo o Paraná alugaram leitores de cartões magnéticos da Redecard, uma das maiores credenciadoras do país. De acordo com o diretor executivo de varejo da empresa, Ramon Gomez, há um potencial muito grande para a expansão no mercado brasileiro. "No Brasil, 22% de tudo o que é pago é feito pela máquina de cartão. Nos Estados Unidos este índice é de 45%. Temos muito espaço para inclusão, por vários motivos. Primeiro porque o comerciante que recebe em cartão tem a garantia de não haver inadimplência e também porque o lojista pode dar mais opções de pagamento aos clientes. Os pequenos comerciantes estão incluídos e há espaço para crescimento no setor", analisa Gomez.
A adaptação se intensificou no segundo semestre do ano passado, com o fim da exclusividade das "maquininhas", que desde 1.° de julho passaram a aceitar mais de uma bandeira. Com isso, os comerciantes puderam manter apenas um aparelho. A mudança agradou aos lojistas, que podem barganhar descontos com as operadoras de cartões, que já diminuíram seus preços para conquistar o público. "Essa medida ajudou muito, pois o empresário acaba tendo mais opções e o mercado, que antes era restrito, agora está muito mais aberto. A vantagem de trabalhar com apenas um aparelho é que o custo diminui, além da praticidade de ter apenas uma máquina", afirma Samoel Antônio de Mattos, que em abril assume a presidência da Federação da Câmara de Dirigentes Lojistas do Paraná.
De fato, a diminuição dos preços já incluiu novos empresários na modernização de seus negócios. Antes do fim da exclusividade, o valor médio do aluguel era de R$ 300, segundo um levantamento feito no ano passado pela Associação Comercial do Paraná (ACP). De acordo com o diretor da Redecard, a credenciadora cobra R$ 60 para máquinas conectadas na rede telefônica e R$ 120 para aquelas que funcionam sem fio. A Cielo, outra grande credenciadora, não atendeu ao pedido de entrevista feito pela Gazeta do Povo.
Dono de uma banca de cachorro-quente no bairro Capão Raso, em Curitiba, Marcelo Cinnante utiliza o serviço há cinco meses e já tem bons resultados para comemorar. "Hoje pelo menos 10% das minhas vendas são pagas com o cartão. A minha expectativa é de que nos próximos sete meses, quando eu completar um ano com o leitor, eu chegue a 50%", estima.
Há 19 anos no mesmo local, o comerciante afirma que a mudança já proporcionou melhorias ao seu negócio. "Em dois pontos facilitou. Primeiro porque eu começo a atender às 22 horas e só fecho de madrugada, e por isso muitos caixas eletrônicos já estão fechados para saque. Meus clientes às vezes me pediam a maquininha, porque não estavam com dinheiro no bolso. Isso me deu um diferencial. Em segundo lugar, melhorou muito em relação à segurança, já que trabalho na rua e fico com menos dinheiro em caixa", salienta Cinnante.
Ao todo, entre familiares e funcionários, dez pessoas trabalham na barraca de cachorro-quente. O valor do lanche cobrado é, em média, R$ 5. Mesmo com o valor baixo do produto, o empresário diz que só vê vantagens em ter o aparelho. "Eu tenho o custo de aluguel e as taxas, mas isso não compromete minha receita no fim do mês. Até a entrega facilita, porque o motoboy pode levar o lanche em casa e a pessoa pode pagar no cartão", ressalta.
Ainda de acordo com a Abecs, a taxa média de administração no setor é de 3%. Nem esta taxa, nem o custo do aluguel, porém, parecem espantar estes pequenos comerciantes. "Pelo fato de o valor dos produtos no geral ser baixo, a porcentagem sobre o custo da máquina é pequena. Conversei com alguns lojistas e eles me disseram que preferem deixar de ganhar do que deixar de vender. No fim, ele acaba agregando o pequeno valor à compra e o aumento fica imperceptível", explica Mattos, que pretende se reunir com as credenciadoras de cartão ainda no início de sua gestão. "A média de transação é de 2% a 5%. Nossa briga é tentar diminuir este valor para que mais comerciantes tenham o aparelho, com o intuito de vender mais e acabar levando o benefício aos consumidores", acrescenta o futuro presidente da federação.