Trabalho realizado pelo Banco Central reúne a experiência de brasileiros que se declaram em situação de endividamento excessivo e descontrole financeiro.
Um dos objetivos da pesquisa qualitativa é guiar as ações da instituição no seu programa de educação financeira.
Foram identificadas três situações que levaram essas pessoas ao endividamento excessivo. A primeira é a ocorrência de fatos inesperados que geraram descontrole financeiro, como perda de emprego ou renda, doenças, gravidez não programada e divórcio.
A segunda é a falta de planejamento, com excesso de parcelamentos, uso de linhas de crédito de forma descontrolada e compras excessivas.
Foi citado ainda o empréstimo do nome ou do cartão de crédito para financiar outras pessoas, como familiares.
Público-alvo
Foram entrevistadas pessoas que recorreram a Procons ou Defensoria Pública ou que estão com nome em cadastros de inadimplentes.
"Os consumidores se reconhecem como os principais responsáveis pela situação, mas também entendem que parte da responsabilidade é das instituições [financeiras]", diz Elvira Cruvinel, chefe do Departamento de Inclusão Financeira do BC.
"As pessoas que se reconheceram como responsáveis mostraram propensão maior a querer mudar a situação", completa.
Armadilhas
Em relação à responsabilidade dos bancos, os entrevistados afirmaram que as instituições financeiras utilizam "armadilhas" que podem levar ao endividamento excessivo.
Entre elas, a oferta ostensiva de crédito e a falta de informações sobre a operação, com destaque para os benefícios, mas sem esclarecimento sobre os riscos. Também entra nessa lista o aumento do limite do cheque especial e do cartão de crédito, algumas vezes sem solicitação do cliente, além de problemas gerados pelo pagamento mínimo da fatura do cartão.
Outra expressão muito utilizada pelos entrevistados é a "bola de neve" gerada na tentativa de resolver o problema. Trata-se da situação em que a pessoa recorre a um novo empréstimo para quitar prestações vencidas, acumulando dívidas.
Essa é uma das saídas buscada pelas pessoas para tentar resolver o problema. Também foram registrado casos de pessoas que usaram cartões e cheques de familiares enquanto estavam com a restrição de crédito.
Via sacra
A renegociação das dívidas com os bancos também não se mostrou um caminho simples, com diversos entrevistados citando a "inflexibilidade" dos credores.
"Na impossibilidade de negociar com os credores nas condições impostas, diversos entrevistados declararam que desistem de pagar suas dívidas, aguardando a sua prescrição, ou que o credor apresente propostas mais viáveis", diz o estudo.
"Ressalta-se, porém, que a prescrição não parece ser uma estratégia premeditada de não pagamento das dívidas, uma vez que o prazo de cinco anos foi considerado como um período muito longo, com consequências materiais e emocionais muito negativas."
Muitos entrevistados disseram que, após a experiência, adotaram práticas de organização financeira, como elaboração de planilhas de receitas e despesas, tentativa de poupança, planejamento das compras de maior valor e controle dos gastos no cartão (mantendo apenas um deles e cancelando os demais).
Pesquisa
A pesquisa qualitativa foi realizada em quatro capitais (São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre e Recife), entre agosto e outubro de 2014, com cerca de 70 pessoas.
Com base nos dados, o BC pretende orientar suas políticas de educação financeira e de relacionamento entre clientes e bancos. Também deverá realizar uma pesquisa quantitativa.
O documento foi apresentado durante o 6º Fórum Banco Central sobre Inclusão Financeira.
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