Pesquisa feita em Orlando, nos Estados Unidos, pelo Departamento de Empreendedorismo e Gestão (DEG) da Universidade Federal Fluminense (UFF), a partir de 2012, traçou o perfil dos pequenos empreendedores brasileiros na cidade e descobriu nova área de estudo, que é a internacionalização de pequenas empresas, além do envolvimento da internacionalização com o movimento de imigração de brasileiros. A pesquisa tem o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj) e será estendida a outras comunidades empresariais brasileiras estabelecidas no exterior.

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O professor Eduardo Picanço, um dos coordenadores do trabalho, disse à Agência Brasil que os dados apurados até agora levam a crer que, no caso dos brasileiros que vão para outros países, o que ocorre é uma internacionalização de empresários e não de negócios. Orlando foi escolhida pelo alto fluxo de turistas brasileiros, estimado em mais de 768 mil em 2013, de acordo com o Departamento de Comércio dos Estados Unidos. A isso se soma o número de negócios regulares de brasileiros na cidade, em torno de 500, incluindo salas comerciais e lojas. Computando as pessoas que trabalham em casa, os negócios podem passar de mil.

Não há, informou Picanço, nenhum caso descrito na literatura acadêmica que mostre o que foi percebido em Orlando. "O empresário que vai para lá passa por muitas dificuldades porque está em um mercado novo que não conhece e acaba sendo naturalmente levado a abrir uma empresa para brasileiro também. E aí você cria um ciclo que pode ser crucial para o insucesso do negócio". Ele ponderou que o número de brasileiros que estão visitando Orlando pode diminuir um dia e isso acarreta risco para as empresas que praticamente dependem do turista brasileiro para sobreviver. "Você não pode criar uma situação de dependência do seu cliente", alertou.

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Em sua maioria, os brasileiros que se estabeleceram em Orlando a partir da década de 1980 são pessoas que não eram empresárias no Brasil, tinham características de imigrante de viver o sonho americano e não o sonho empresarial. "Os que tiveram sucesso, acabaram montando seus negócios lá". Já a maioria dos novos integrantes das comunidades brasileiras sai do país empresário para continuar o processo no exterior.

Eduardo Picanço destacou que em torno de 70% abriram uma empresa em uma área de negócio diferente da que trabalhavam no Brasil. Todos os outros responderam que deixaram o país porque não aguentavam mais a insegurança, a má qualidade da educação, a corrupção. Um grupo menor disse estar indo fazer carreira nos Estados Unidos, enquanto outra parcela alegou opções pessoais: "o pai morava lá, um amigo convidou".

Segundo o professor da UFF, o estudo está levando para um caminho que considera inédito na linha das teorias sobre empreendedorismo internacional. A generalização da pesquisa vai confirmar essa tese, disse. Concluída a etapa da pesquisa em Orlando, a meta agora é investigar as cidades de Miami e Pompano Beach, segunda maior colônia de brasileiros nos Estados Unidos, antes de seguir, em 2015, para Nova York, Los Angeles e Boston, que abrigam a maior comunidade oriunda do Brasil. Estagiários do DEG já mapearam os empresários existentes nessas áreas. Depois de concluída nos Estados Unidos, a pesquisa será feita na Europa.

Outro dado coletado confirma que a maioria das empresas brasileiras no exterior emprega brasileiros, o que acaba fortalecendo a colônia e gerando desenvolvimento econômico. Picanço reiterou, entretanto, o risco de a comunidade acabar ficando dependente dos turistas brasileiros. O estudo revela ainda, do lado social, que quando a comunidade empresarial brasileira é forte, "com certeza tem uma comunidade forte ao lado. Ela é geradora de emprego".

Ronaldo Esteves largou o curso de engenharia que fazia no Rio faltando apenas 1,5 ano para se formar e decidiu mudar para a área de turismo. Fez cursos de inglês e espanhol e há 27 anos se mudou para Orlando com a mulher, também brasileira. Seis meses depois de chegar à cidade, abriu uma operadora de turismo receptivo, a RGE. Há 12 anos, vislumbrou outro nicho promissor, que era o serviço pela internet, e mudou para a atual empresa, Orlando Ticket On Line, que tem quase 100% do seu público formado por turistas brasileiros que vão para os Estados Unidos, além de argentinos, mexicanos e venezuelanos. "Fui com o intuito de ficar um ano para aperfeiçoar o inglês e voltar para montar uma empresa receptiva no Rio", disse à Agência Brasil. Acabou ficando. As duas filhas, de 17 e 19 anos, nasceram em Orlando. Ronaldo Esteves não pretende retornar ao Brasil.

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Voltar ao Brasil não faz parte também dos planos de Paulo de Souza, que há 14 anos foi para Orlando com a mulher e dois filhos. Levou para lá a experiência que tinha na área de publicidade e foi designer gráfico em uma publicação da cidade até que, há 7,5 anos, decidiu abrir o seu próprio jornal Nossa Gente, que distribui mensalmente 8 mil cópias gratuitas. Os custos são pagos pelos anúncios de comerciantes. "A gente já está enraizado aqui. Minha filha está indo para o college (faculdade). Cada vez é mais difícil pensar em voltar", comentou.

O DEG-UFF está estudando a possibilidade de levar para Orlando, a partir de outubro próximo, um curso semipresencial de formação básica de técnica de gestão. O objetivo é atender aos empreendedores menos favorecidos, "aqueles que ainda não têm a sua loja, trabalham dentro de casa ou em parte da loja de um amigo", explicou Eduardo Picanço. O curso é gratuito. Se o projeto tiver sucesso, ele poderá ficar disponível para qualquer grupo de brasileiros organizado no exterior.